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Capيtulo 1
1. Amai a justiça, vَs que governais a terra, tende para com o
Senhor sentimentos perfeitos, e procurai-o na simplicidade do coraçمo,
2. porque ele é encontrado pelos que o nمo tentam, e se revela
aos que nمo lhe recusam sua confiança;
3. com efeito, os pensamentos tortuosos afastam de Deus, e o seu
poder, posto à prova, triunfa dos insensatos.
4. A Sabedoria nمo entrarل na alma perversa, nem habitarل no
corpo sujeito ao pecado;
5. o Espيrito Santo educador (das almas) fugirل da perfيdia,
afastar-se-ل dos pensamentos insensatos, e a iniqüidade que sobrevém o
repelirل.
6. Sim, a Sabedoria é um espيrito que ama os homens, mas nمo
deixarل sem castigo o blasfemador pelo crime de seus lلbios, porque Deus
lhe sonda os rins, penetra até o fundo de seu coraçمo, e ouve as suas
palavras.
7. Com efeito, o Espيrito do Senhor enche o universo, e ele, que
tem unidas todas as coisas, ouve toda voz.
8. Aquele que profere uma linguagem inيqua, nمo pode fugir dele,
e a Justiça vingadora nمo o deixarل escapar;
9. pois os prَprios desيgnios do يmpio serمo cuidadosamente
examinados; o som de suas palavras chegarل até o Senhor, que lhe imporل
o castigo pelos seus pecados.
10. ة, com efeito, um ouvido cioso, que tudo ouve: nem a menor
murmuraçمo lhe passa despercebida.
11. Acautelai-vos, pois, de queixar-vos inutilmente, evitai que
vossa lيngua se entregue à crيtica, porque até mesmo uma palavra secreta
nمo ficarل sem castigo, e a boca que acusa com injustiça arrasta a alma
à morte.
12. Nمo procureis a morte por uma vida desregrada, nمo sejais o
prَprio artيfice de vossa perda.
13. Deus nمo é o autor da morte, a perdiçمo dos vivos nمo lhe dل
alegria alguma.
14. Ele criou tudo para a existência, e as criaturas do mundo
devem cooperar para a salvaçمo. Nelas nenhum princيpio é funesto, e a
morte nمo é a rainha da terra,
15. porque a justiça é imortal.
16. Mas, (a morte), os يmpios a chamam com o gesto e a voz.
Crendo-a amiga, consomem-se de desejos, e fazem aliança com ela; de fato,
eles merecem ser sua presa.
Capيtulo 2
1. Dizem, com efeito, nos seus falsos raciocيnios: Curta é a
nossa vida, e cheia de tristezas; para a morte nمo hل remédio algum; nمo
hل notيcia de ninguém que tenha voltado da regiمo dos mortos.
2. Um belo dia nascemos e, depois disso, seremos como se jamais
tivéssemos sido! ة fumaça a respiraçمo de nossos narizes, e nosso
pensamento, uma centelha que salta do bater de nosso coraçمo!
3. Extinta ela, nosso corpo se tornarل pَ, e o nosso espيrito se
dissiparل como um vapor inconsistente!
4. Com o tempo nosso nome cairل no esquecimento, e ninguém se
lembrarل de nossas obras. Nossa vida passarل como os traços de uma nuvem,
desvanecer-se-ل como uma névoa que os raios do sol expulsam, e que seu
calor dissipa.
5. A passagem de uma sombra: eis a nossa vida, e nenhum reinيcio
é possيvel uma vez chegado o fim, porque o selo lhe é aposto e ninguém
volta.
6. Vinde, portanto! Aproveitemo-nos das boas coisas que existem!
Vivamente gozemos das criaturas durante nossa juventude!
7. Inebriemo-nos de vinhos preciosos e de perfumes, e nمo
deixemos passar a flor da primavera!
8. Coroemo-nos de botُes de rosas antes que eles murchem!
9. Ninguém de nَs falte à nossa orgia; em toda parte deixemos
sinais de nossa alegria, porque esta é a nossa parte, esta a nossa sorte!
10. Tiranizemos o justo na sua pobreza, nمo poupemos a viْva, e
nمo tenhamos consideraçمo com os cabelos brancos do anciمo!
11. Que a nossa força seja o critério do direito, porque o fraco,
em verdade, nمo serve para nada.
12. Cerquemos o justo, porque ele nos incomoda; é contrلrio às
nossas açُes; ele nos censura por violar a lei e nos acusa de contrariar
a nossa educaçمo.
13. Ele se gaba de conhecer a Deus, e se chama a si mesmo filho
do Senhor!
14. Sua existência é uma censura às nossas idéias; basta sua
vista para nos importunar.
15. Sua vida, com efeito, nمo se parece com as outras, e os seus
caminhos sمo muito diferentes.
16. Ele nos tem por uma moeda de mau quilate, e afasta-se de
nosso caminhos como de manchas. Julga feliz a morte do justo, e gloria-se
de ter Deus por pai.
17. Vejamos, pois, se suas palavras sمo verdadeiras, e
experimentemos o que acontecerل quando da sua morte,
18. porque, se o justo é filho de Deus, Deus o defenderل, e o
tirarل das mمos dos seus adversلrios.
19. Provemo-lo por ultrajes e torturas, a fim de conhecer a sua
doçura e estarmos cientes de sua paciência.
20. Condenemo-lo a uma morte infame. Porque, conforme ele, Deus
deve intervir.
21. Eis o o que pensam, mas enganam-se, sua malيcia os cega:
22. eles desconhecem os segredos de Deus, nمo esperam que a
santidade seja recompensada, e nمo acreditam na glorificaçمo das almas
puras.
23. Ora, Deus criou o homem para a imortalidade, e o fez à imagem
de sua prَpria natureza.
24. ة por inveja do demônio que a morte entrou no mundo, e os que
pertencem ao demônio provل-la-مo.
Capيtulo 3
1. Mas as almas dos justos estمo na mمo de Deus, e nenhum
tormento os tocarل.
2. Aparentemente estمo mortos aos olhos dos insensatos: seu
desenlace é julgado como uma desgraça.
3. E sua morte como uma destruiçمo, quando na verdade estمo na
paz!
4. Se aos olhos dos homens suportaram uma correçمo, a esperança
deles era portadora de imortalidade,
5. e por terem sofrido um pouco, receberمo grandes bens, porque
Deus, que os provou, achou-os dignos de si.
6. Ele os provou como ouro na fornalha, e os acolheu como
holocausto.
7. No dia de sua visita, eles se reanimarمo, e correrمo como
centelhas na palha.
8. Eles julgarمo as naçُes e dominarمo os povos, e o Senhor
reinarل sobre eles para sempre.
9. Os que pُem sua confiança nele compreenderمo a verdade, e os
que sمo fiéis habitarمo com ele no amor: porque seus eleitos sمo dignos
de favor e misericَrdia.
10. Mas os يmpios terمo o castigo que merecem seus pensamentos,
uma vez que desprezaram o justo e se separaram do Senhor: e desgraçado é
aquele que rejeita a sabedoria e a disciplina!
11. A esperança deles é vم, seus sofrimentos sem proveito, e as
obras deles inْteis.
12. Suas mulheres sمo insensatas e seus filhos malvados; a raça
deles é maldita.
13. Feliz a mulher estéril, mas pura de toda a mancha, a que nمo
manchou seu tلlamo: ela carregarل seu fruto no dia da retribuiçمo das
almas.
14. Feliz o eunuco cuja mمo nمo cometeu o mal, que nمo concebeu
iniqüidade contra o Senhor, porque ele receberل pela sua fidelidade uma
graça de escol, e no templo do Senhor uma parte muito honrosa,
15. porque é esplêndido o fruto de bons trabalhos, e a raiz da
sabedoria é sempre fértil.
16. Quanto aos filhos dos adْlteros, a nada chegarمo, e a raça
que descende do pecado serل aniqüilada.
17. Ainda que vivam muito tempo, serمo tidos por nada e,
finalmente, sua velhice serل sem honra.
18. Caso morram cedo, nمo terمo esperança alguma, e no dia do
julgamento nمo encontrarمo nenhuma piedade:
19. porque é lamentلvel o fim de uma raça injusta.
Capيtulo 4
1. Mais vale uma vida sem filhos, mas rica de virtudes: sua
memَria serل imortal, porque serل conhecida de Deus e dos homens.
2. Quando estل presente, imitam-na; quando passada, desejam-na;
ela leva na glَria uma coroa eterna, por ter triunfado sem mancha nos
combates.
3. Mas para nada servirل, ainda que numerosa, a raça dos يmpios;
procedendo de renovos bastardos, nمo estenderل raيzes profundas, nمo se
estabelecerل numa base sَlida.
4. Ainda que por algum tempo estenda seus ramos, estando
instavelmente assentada, serل abalada pelo vento e, pela violência da
tempestade, serل desarraigada.
5. Os galhos serمo quebrados antes do desenvolvimento, o fruto
deles serل inْtil, verde demais para ser comido, e imprَprio para
qualquer uso,
6. porque os filhos nascidos de uniُes ilيcitas serمo no dia do
juيzo testemunhas a deporem contra seus pais.
7. Quanto ao justo, mesmo que morra antes da idade, gozarل de
repouso.
8. A honra da velhice nمo provém de uma longa vida, e nمo se mede
pelo nْmero dos anos.
9. Mas é a sabedoria que faz as vezes dos cabelos brancos; é uma
vida pura que se tem em conta de velhice.
10. Ele agradou a Deus e foi por ele amado, assim (Deus) o
transferiu do meio dos pecadores onde vivia.
11. Foi arrebatado para que a malيcia lhe nمo corrompesse o
sentimento, nem a astْcia lhe pervertesse a alma:
12. porque a fascinaçمo do vيcio atira um véu sobre a beleza
moral, e o movimento das paixُes mina uma alma ingênua.
13. Tendo chegado rapidamente ao termo, percorreu uma longa
carreira.
14. Sua alma era agradلvel ao Senhor, e é por isso que ele o
retirou depressa do meio da perversidade. Os povos que vêem esse modo de
agir nمo o compreendem, e nمo refletem nisto:
15. que o favor de Deus e sua misericَrdia sمo para seus eleitos,
e sua assistência estل no meio de seus fiéis.
16. O justo, ao morrer, condena os يmpios que sobrevivem, e a
juventude, atingindo tمo depressa a perfeiçمo, confunde a longa velhice
do pecador.
17. Eles verمo o fim do sلbio, e nمo compreenderمo os desيgnios
do Senhor a seu respeito, nem por que ele o pôs em segurança.
18. Eles verمo e mostrarمo desprezo, mas o Senhor zombarل deles.
19. Depois disso serمo cadلveres sem honra, desterrados entre os
mortos, numa eterna ignomيnia, porque ele os ferirل, e os precipitarل
sem voz, abatê-los-ل nas suas bases e os mergulharل na ْltima desolaçمo.
Eles serمo entregues à dor, e a memَria deles perecerل.
20. Comparecerمo aterrorizados com a lembrança de seus pecados, e
suas iniqüidades se levantarمo contra eles para os confundir.
Capيtulo 5
1. Entمo, com grande confiança, o justo se levantarل em face dos
que o perseguiram e zombaram dos seus males aqui embaixo.
2. Diante de sua vista serمo presos de grande temor e tomados de
assombro ao vê-lo salvo contra sua expectativa;
3. tocados de arrependimento, dirمo entre si, e, gemendo na
angْstia de sua alma, dirمo:
4. Ei-lo, aquele de quem outrora escarnecemos, e a quem
loucamente cobrimos de insultos! Considerلvamos sua vida como uma
loucura, e sua morte como uma vergonha.
5. Como, pois, é ele do nْmero dos filhos de Deus, e como estل
seu lugar entre os santos?
6. Portanto, nَs nos desgarramos para longe da verdade: a luz da
justiça nمo brilhou para nَs e o sol nمo se levantou sobre nَs!
7. Nَs nos manchamos nas sendas da iniqüidade e da perdiçمo,
erramos pelos desertos sem caminhos e nمo conhecemos o caminho do Senhor!
8. O que ganhamos com nosso orgulho, e que nos trouxe a riqueza
unida à arrogância?
9. Tudo isso desapareceu como sombra, como notيcia que passa;
10. como navio que fende a لgua agitada, sem que se possa
reencontrar o rasto de seu itinerلrio, nem a esteira de sua quilha nas
ondas.
11. Como a ave que, atravessando o ar em seu vôo, nمo deixa apَs
si o traço de sua passagem, mas, ferindo o ar com suas penas, fende-o
com a impetuosa força do bater de suas asas, atravessa-o e logo nem se
nota indيcio de sua passagem;
12. como quando uma flecha, que é lançada ao alvo, o ar que ela
cortou volta imediatamente à sua posiçمo de modo que nمo se pode
distinguir sua trajetَria,
13. assim, também nَs, apenas nascidos, cessamos de ser, e nمo
podemos mostrar traço algum de virtude: é no mal que nossa vida se
consumiu!
14. Assim a esperança do يmpio é como a poeira levada pelo vento,
e como uma leve espuma espalhada pela tempestade; ela se dissipa como o
fumo ao vento, e passa como a lembrança do hَspede de um dia.
15. Mas os justos viverمo eternamente; sua recompensa estل no
Senhor, e o Altيssimo cuidarل deles.
16. Por isso receberمo a régia coroa de glَria, e o diadema da
beleza da mمo do Senhor, porque os cobrirل com sua direita, e os
protegerل com seu braço.
17. Por armadura tomarل seu zelo cioso, e armarل as criaturas
para se vingar de seus inimigos.
18. Tomarل por couraça a justiça, e por capacete a integridade no
julgamento.
19. Ele se cobrirل com a santidade, como com um impenetrلvel
escudo,
20. afiarل o gume de sua ira para lhe servir de espada, e o mundo
se reunirل a ele na luta contra os insensatos.
21. Os raios partirمo como flechas bem dirigidas, e, como de um
arco bem distendido, voarمo das nuvens para o alvo;
22. uma balista farل cair uma pesada saraiva de ira; a لgua do
mar se levantarل em turbilhمo contra eles e os rios os arrastarمo
impetuosamente.
23. O sopro do Todo-poderoso se insurgirل contra eles e os
dispersarل como um furacمo; a iniqüidade farل de toda a terra um deserto,
e a malيcia derribarل os tronos dos poderosos!
Capيtulo 6
1. Ouvi, pois, َ reis, e entendei; aprendei vَs que governais o
universo!
2. Prestai ouvidos, vَs que reinais sobre as naçُes e vos
gloriais do nْmero de vossos povos!
3. Porque é do Senhor que recebestes o poder, e é do Altيssimo
que tendes o poderio; é ele que examinarل vossas obras e sondarل vossos
pensamentos!
4. Se, ministros do reino, vَs nمo julgastes eqüitativamente, nem
observastes a lei, nem andastes segundo a vontade de Deus,
5. ele se apresentarل a vَs, terrيvel, inesperado, porque aqueles
que dominam serمo rigorosamente julgados.
6. Ao menor, com efeito, a compaixمo atrai o perdمo, mas os
poderosos serمo examinados sem piedade.
7. O Senhor de todos nمo farل exceçمo para ninguém, e nمo se
deixarل impor pela grandeza, porque, pequenos ou grandes, é ele que a
todos criou, e de todos cuida igualmente;
8. mas para os poderosos o julgamento serل severo.
9. ة a vَs, pois, َ prيncipes, que me dirijo, para que aprendais
a Sabedoria e nمo resvaleis,
10. porque aqueles que santamente observarem as santas leis serمo
santificados, e os que as tiverem estudado poderمo justificar-se.
11. Anelai, pois, pelas minhas palavras, reclamai-as ardentemente
e sereis instruيdos.
12. Resplandescente é a Sabedoria, e sua beleza é inalterلvel: os
que a amam, descobrem-na facilmente.
13. Os que a procuram encontram-na. Ela antecipa-se aos que a
desejam.
14. Quem, para possuي-la, levanta-se de madrugada, nمo terل
trabalho, porque a encontrarل sentada à sua porta.
15. Fazê-la objeto de seus pensamentos é a prudência perfeita, e
quem por ela vigia, em breve nمo terل mais cuidado.
16. Ela mesma vai à procura dos que sمo dignos dela; ela lhes
aparece nos caminhos cheia de benevolência, e vai ao encontro deles em
todos os seus pensamentos,
17. porque, verdadeiramente, desde o começo, seu desejo é
instruir, e desejar instruir-se é amل-la.
18. Mas amل-la é obedecer às suas leis, e obedecer às suas leis é
a garantia da imortalidade.
19. Ora, a imortalidade faz habitar junto de Deus;
20. assim o desejo da Sabedoria conduz ao Reino!
21. Se, pois, cetros e tronos vos agradam, َ vَs que governais os
povos, honrai a Sabedoria, e reinareis eternamente.
22. Mas eu vou dizer o que é a Sabedoria e como ela nasceu. Nمo
vos esconderei os seus mistérios; mas investigل-la-ei até sua mais
remota origem; porei à luz o que dela pode ser conhecido, e nمo me
afastarei da verdade.
23. Nمo imitarei aquele a quem a inveja consome, porque esse tal
nمo tem nada a ver com a Sabedoria:
24. é no grande nْmero de sلbios que se encontra a salvaçمo do
mundo, e um rei sensato faz a prosperidade de seu povo.
25. Deixai-vos, pois, instruir por minhas palavras, e nelas
encontrareis grande proveito.
Capيtulo 7
1. Eu mesmo nمo passo de um mortal como todos os outros, e
descendo do primeiro homem formado da terra. Meu corpo foi formado no
seio de minha mمe,
2. onde, durante dez meses, no sangue tomou consistência, da
semente viril e do prazer ajuntado à uniمo (conjugal).
3. Eu também, desde meu nascimento, respirei o ar comum; eu caي,
da mesma maneira que todos, sobre a mesma terra, e, como todos, nos
mesmos prantos soltei o primeiro grito.
4. Envolto em faixas fui criado no meio de assيduos cuidados;
5. porque nenhum rei teve outro inيcio na existência;
6. para todos a entrada na vida é a mesma e a partida semelhante.
7. Assim implorei e a inteligência me foi dada, supliquei e o
espيrito da sabedoria veio a mim.
8. Eu a preferi aos cetros e tronos, e avaliei a riqueza como um
nada ao lado da Sabedoria.
9. Nمo comparei a ela a pedra preciosa, porque todo o ouro ao
lado dela é apenas um pouco de areia, e porque a prata diante dela serل
tida como lama.
10. Eu a amei mais do que a saْde e a beleza, e gozei dela mais
do que da claridade do sol, porque a claridade que dela emana jamais se
extingue.
11. Com ela me vieram todos os bens, e nas suas mمos inumerلveis
riquezas.
12. De todos esses bens eu me alegrei, porque é a Sabedoria que
os guia, mas ignorava que ela fosse sua mمe.
13. Eu estudei lealmente e reparto sem inveja e nمo escondo a
riqueza que ela encerra,
14. porque ela é para os homens um tesouro inesgotلvel; e os que
a adquirem preparam-se para se tornar amigos de Deus, recomendados (a
ele) pela educaçمo que ela lhes dل.
15. Que Deus me permita falar como eu quisera, e ter pensamentos
dignos dos dons que recebi, porque é ele mesmo quem guia a sabedoria e
emenda os sلbios,
16. porque nَs estamos nas suas mمos, nَs e nossos discursos,
toda a nossa inteligência e nossa habilidade;
17. foi ele quem me deu a verdadeira ciência de todas as coisas,
quem me fez conhecer a constituiçمo do mundo e as virtudes dos elementos,
18. o começo, o fim e o meio dos tempos, a sucessمo dos
solstيcios e as mutaçُes das estaçُes,
19. os ciclos do ano e as posiçُes dos astros,
20. a natureza dos animais e os instintos dos brutos, os poderes
dos espيritos e os pensamentos dos homens, a variedade das plantas e as
propriedades das raيzes.
21. Tudo que estل escondido e tudo que estل aparente eu conheço:
porque foi a sabedoria, criadora de todas as coisas, que mo ensinou.
22. Hل nela, com efeito, um espيrito inteligente, santo, ْnico,
mْltiplo, sutil, mَvel, penetrante, puro, claro, inofensivo, inclinado
ao bem, agudo,
23. livre, benéfico, benévolo, estلvel, seguro, livre de
inquietaçمo, que pode tudo, que cuida de tudo, que penetra em todos os
espيritos, os inteligentes, os puros, os mais sutis.
24. Mais لgil que todo o movimento é a Sabedoria, ela atravessa e
penetra tudo, graças à sua pureza.
25. Ela é um sopro do poder de Deus, uma irradiaçمo lيmpida da
glَria do Todo-poderoso; assim mancha nenhuma pode insinuar-se nela.
26. ة ela uma efusمo da luz eterna, um espelho sem mancha da
atividade de Deus, e uma imagem de sua bondade.
27. Embora ْnica, tudo pode; imutلvel em si mesma, renova todas
as coisas. Ela se derrama de geraçمo em geraçمo nas almas santas e forma
os amigos e os intérpretes de Deus,
28. porque Deus somente ama quem vive com a sabedoria!
29. ة ela, com efeito, mais bela que o sol e ultrapassa o
conjunto dos astros. Comparada à luz, ela se sobreleva,
30. porque à luz sucede a noite, enquanto que, contra a Sabedoria,
o mal nمo prevalece.
Capيtulo 8
1. Ela estende seu vigor de uma extremidade do mundo à outra e
governa todas as coisas com felicidade.
2. Eu a amei e procurei desde minha juventude, esforçei-me por tê-la
por esposa e me enamorei de seus encantos.
3. Ela mostra a nobreza de sua origem em conviver com Deus, ela é
amada pelo Senhor de todas as coisas.
4. Ela é iniciada na ciência de Deus e, por sua escolha, decide
de suas obras.
5. Se a riqueza é um bem desejلvel na vida, que hل de mais rico
que a Sabedoria que tudo criou?
6. Se a inteligência do homem consegue operar, o que, entمo, mais
que a Sabedoria, é artيfice dos seres?
7. E se alguém ama a justiça, seus trabalhos sمo virtudes; ela
ensina a temperança e a prudência, a justiça e a força: nمo hل ninguém
que seja mais ْtil aos homens na vida.
8. Se alguém deseja uma vasta ciência, ela sabe o passado e
conjectura o futuro; conhece as sutilezas oratَrias e revolve os
enigmas; prevê os sinais e os prodيgios, e o que tem que acontecer no
decurso das idades e dos tempos.
9. Portanto, resolvi tomل-la por companheira de minha vida,
cuidando que ela serل para mim uma boa conselheira, e minha consolaçمo
nos cuidados e na tristeza.
10. Graças a ela, receberei as honras das multidُes, e, embora
jovem como sou, o respeito dos anciمos.
11. Reconhecerمo a penetraçمo de meu julgamento, e excitarei a
admiraçمo dos reis.
12. Se me calo, esperarمo que eu fale; se falo, estarمo atentos;
e se prolongo meu discurso, levarمo a mمo à boca.
13. Por meio dela obterei a imortalidade, e deixarei à
posteridade uma lembrança eterna.
14. Governarei povos e as naçُes ser-me-مo submissas.
15. Prيncipes temيveis estarمo cheios de medo ao ouvirem falar de
mim; mostrar-me-ei bom para com o povo e valoroso no combate.
16. Recolhido em minha casa, repousarei junto dela, porque a sua
convivência nمo tem nada de desagradلvel, e sua intimidade nada de
fastidioso; ela traz consigo, pelo contrلrio, o contentamento e a
alegria!
17. Meditando comigo mesmo nesses pensamentos, e considerando em
meu coraçمo que a imortalidade se encontra na aliança com a Sabedoria,
18. a alegria perfeita na sua amizade, contيnua riqueza na sua
atividade, inteligência nas liçُes de seus entretenimentos familiares, e
glَria na comunicaçمo de suas sentenças, saي à sua procura a fim de
possuي-la em mim.
19. Eu era um menino vigoroso, dotado de uma alma excelente,
20. ou antes, como era bom, eu vim a um corpo intacto;
21. mas, consciente de nمo poder possuir a sabedoria, a nمo ser
por dom de Deus, (e jل era inteligência o saber de onde vem o dom), eu
me voltei para o Senhor, e invoquei-o, dizendo do fundo do coraçمo:
Capيtulo 9
1. Deus de nossos pais, e Senhor de misericَrdia, que todas as
coisas criastes pela vossa palavra,
2. e que, por vossa sabedoria, formastes o homem para ser o
senhor de todas as vossas criaturas,
3. governar o mundo na santidade e na justiça, e proferir seu
julgamento na retidمo de sua alma,
4. dai-me a Sabedoria que partilha do vosso trono, e nمo me
rejeiteis como indigno de ser um de vossos filhos.
5. Sou, com efeito, vosso servo e filho de vossa serva, um homem
fraco, cuja existência é breve, incapaz de compreender vosso julgamento
e vossas leis;
6. porque qualquer homem, mesmo perfeito, entre os homens, nمo
serل nada, se lhe falta a Sabedoria que vem de vَs.
7. Ora, vَs me escolhestes para ser rei de vosso povo e juiz de
vossos filhos e vossas filhas.
8. Vَs me ordenastes construir um templo na vossa montanha santa
e um altar na cidade em que habitais: imagem da sagrada habitaçمo que
preparastes desde o princيpio.
9. Mas, ao lado de vَs estل a Sabedoria que conhece vossas obras;
ela estava presente quando fizestes o mundo, ela sabe o que vos é
agradلvel, e o que se conforma às vossas ordens.
10. Fazei-a, pois, descer de vosso santo céu, e enviai-a do trono
de vossa glَria, para que, junto de mim, tome parte em meus trabalhos, e
para que eu saiba o que vos agrada.
11. Com efeito, ela sabe e conhece todas as coisas; prudentemente
guiarل meus passos, e me protegerل no brilho de sua glَria.
12. Assim, minhas obras vos serمo agradلveis; governarei vosso
povo com justiça, e serei digno do trono de meu pai.
13. Que homem, pois, pode conhecer os desيgnios de Deus, e
penetrar nas determinaçُes do Senhor?
14. Tيmidos sمo os pensamentos dos mortais, e incertas as nossas
concepçُes;
15. porque o corpo corruptيvel torna pesada a alma, e a morada
terrestre oprime o espيrito carregado de cuidados.
16. Mal podemos compreender o que estل sobre a terra,
dificilmente encontramos o que temos ao alcance da mمo. Quem, portanto,
pode descobrir o que se passa no céu?
17. E quem conhece vossas intençُes, se vَs nمo lhe dais a
Sabedoria, e se do mais alto dos céus vَs nمo lhe enviais vosso Espيrito
Santo?
18. Assim se tornaram direitas as veredas dos que estمo na terra;
os homens aprenderam as coisas que vos agradam e pela sabedoria foram
salvos.
Capيtulo 10
1. O primeiro homem, o pai do mundo, que foi criado sozinho, foi
a Sabedoria que cuidou dele, tirou-o de seu prَprio pecado,
2. e deu-lhe o poder de reinar sobre todas as coisas.
3. E porque o perverso, na sua ira, dela se afastou, pereceu
depois de seu furor fratricida.
4. E estando a terra submersa por causa dele pelo dilْvio, a
Sabedoria de novo o salvou, conduzindo o justo num lenho sem valor.
5. E quando as naçُes unânimes caيram no mal, foi ela que
distinguiu o justo, o manteve irrepreensيvel diante de Deus, e lhe deu a
força para vencer sua ternura pelo seu filho.
6. Foi ela que, quando do aniquilamento dos يmpios, salvou o
justo, subtraindo-o ao fogo que descera sobre a Pentلpole,
7. cuja perversidade ainda no presente é testemunhada por uma
terra fumegante e deserta, onde as لrvores carregam frutos incapazes de
amadurecer, e onde estل erigida uma coluna de sal, memorial de uma alma
incrédula.
8. Porque aqueles que desprezaram a Sabedoria, nمo somente se
prejudicaram em ignorar o bem, mas ainda deixaram aos homens um
testemunho de sua loucura, para que seus pecados nمo fossem esquecidos.
9. Quanto aos que a honram, a Sabedoria os liberta de sofrimentos;
10. foi ela que guiou por caminhos retos o justo que fugia à ira
de seu irmمo; mostrou-lhe o reino de Deus, e deu-lhe o conhecimento das
coisas santas; ajudou-o nos seus trabalhos, e fez frutificar seus
esforços;
11. cuidou dele contra لvidos opressores e o fez conquistar
riquezas;
12. ela o protegeu contra seus inimigos e o defendeu dos que lhe
armavam ciladas; e no duro combate, deu-lhe vitَria, a fim de que ele
soubesse quanto a piedade é mais forte que tudo.
13. Ela nمo abandonou o justo vendido, mas preservou-o do pecado.
14. Desceu com ele à prisمo, e nمo o abandonou nas suas cadeias,
até que lhe trouxe o cetro do reino e o poder sobre os que o tinham
oprimido; revelou-lhe a mentira de seus acusadores, e conferiu-lhe uma
glَria eterna.
15. Foi ela que livrou das naçُes que o tiranizavam, o povo santo
e a raça irrepreensيvel;
16. entrou na alma do servo de Deus, e se opôs, com sinais e
prodيgios, a reis temيveis.
17. Deu aos santos o galardمo de seus trabalhos, conduziu-os por
um caminho miraculoso; durante o dia serviu-lhes de proteçمo, e deu-lhes
a luz dos astros, durante a noite.
18. Fê-los atravessar o mar Vermelho, e deu-lhes passagem através
da massa das لguas,
19. ao passo que engoliu seus inimigos, e depois os tirou das
profundezas do abismo.
20. Também os justos, depois de despojados os يmpios, celebraram,
Senhor, vosso santo nome, e louvaram, unidos num sَ coraçمo, vossa mمo
protetora,
21. porque a Sabedoria abriu a boca aos mudos, e tornou eloqüente
a lيngua das crianças.
Capيtulo 11
1. Pela mمo de um santo profeta aplanou suas dificuldades;
2. eles atravessaram um deserto inabitado, e levantaram suas
tendas em lugares ermos;
3. resistiram aos que os atacavam, e repeliram seus inimigos.
4. Tiveram sede e clamaram a vَs: do rochedo abrupto a لgua lhes
foi dada, e da pedra seca estancaram sua sede.
5. Porque os elementos que tinham servido para punir seus
inimigos, foram-lhes dados, na sua necessidade, como benefيcio:
6. em lugar das ondas de um rio perene turvadas por uma lama de
sangue,
7. pela puniçمo do decreto que consagrava crianças à morte, vَs
lhes destes, de maneira inesperada, لgua em abundância,
8. mostrando-lhes, pela sede que entمo sofreram, como punistes
seus inimigos.
9. Por isso, tratados com piedade na sua provaçمo, reconheceram
quanto deviam ter sofrido os يmpios, julgados com ira.
10. A estes provastes como um pai que corrige, mas a outros
provastes como um rei severo que condena.
11. Tanto estando longe como perto, a dor os consumiu da mesma
forma,
12. porque tiveram um segundo para se entristecer e gemer à
lembrança dos males passados.
13. Compreendendo, com efeito, que o que era para eles castigo,
era para outros ocasiمo de benefيcio, sentiram a mمo do Senhor;
14. e aquele que, outrora exposto e abandonado, tinham repelido
com zombaria, admiraram-no finalmente, porque sofreram uma sede
diferente da sede do justo.
15. Por outro lado, para os punir dos loucos pensamentos de sua
perversidade, que os faziam extraviar-se na adoraçمo de répteis
irracionais e de vis animais, enviastes contra eles uma multidمo de
animais estْpidos,
16. a fim de que compreendessem que por onde cada um peca, serل
punido.
17. Nمo era difيcil à vossa mمo todo-poderosa, que formou o mundo
de matéria informe, mandar contra eles bandos de ursos e de leُes
ferozes,
18. ou animais desconhecidos e duma nova espécie, cheios de
furor, exalando um hلlito inflamado, ou espalhando um fumo infecto, ou
lançando de seus olhos faيscas terrيveis,
19. capazes nمo sَ de os exterminar com seus golpes, mas ainda de
os matar de terror sَ pelo seu aspecto.
20. E, mesmo sem isso, eles poderiam perecer por um sopro,
perseguidos pela justiça e arrebatados pelo vento de vosso poder; mas,
dispusestes tudo com medida, quantidade e peso,
21. porque sempre vos é possيvel mostrar vosso poder imenso, e
quem poderل resistir à força de vosso braço?
22. Diante de vَs o mundo inteiro é como um nada, que faz pender
a balança, ou como uma gota de orvalho, que desce de madrugada sobre a
terra.
23. Tendes compaixمo de todos, porque vَs podeis tudo; e para que
se arrependam, fechais os olhos aos pecados dos homens.
24. Porque amais tudo que existe, e nمo odiais nada do que
fizestes, porquanto, se o odiلsseis, nمo o terيeis feito de modo algum.
25. Como poderia subsistir qualquer coisa, se nمo o tivésseis
querido, e conservar a existência, se por vَs nمo tivesse sido chamada?
26. Mas poupais todos os seres, porque todos sمo vossos, َ Senhor,
que amais a vida.
Capيtulo 12
1. Vosso espيrito incorruptيvel estل em todos.
2. ة por isso que castigais com brandura aqueles que caem, e os
advertis mostrando-lhes em que pecam, a fim de que rejeitem sua malيcia
e creiam em vَs, Senhor.
3. Foi assim que se deu com os antigos habitantes da Terra Santa.
4. Tيnheis horror deles por causa de suas obras detestلveis, sua
magia e seus ritos يmpios,
5. seus cruéis morticيnios de crianças, seus festins de entranhas,
carne humana e sangue, suas iniciaçُes nos mistérios orgيacos,
6. e os crimes de pais contra seres indefesos; e resolvestes
aniquilل-los pela mمo de nossos pais,
7. para que esta terra, que estimais entre todas, recebesse uma
digna colônia de filhos de Deus.
8. Contudo, porque também eles eram homens, vَs os poupastes,
enviando-lhes vespas precursoras de vosso exército, para que elas os
fizessem perecer pouco a pouco.
9. Nمo é que vos fosse impossيvel esmagar os maus por meio dos
justos num combate, ou exterminar todos juntos por animais ferozes ou
por uma palavra categَrica;
10. mas castigando-os pouco a pouco, dلveis tempo para o
arrependimento, nمo ignorando que sua raça era maldita, ingênita a sua
perversidade, e que jamais seus pensamentos se mudariam,
11. porque sua estirpe era mل desde a origem... Nمo era por temor
do que quer que fosse que vos mostrلveis indulgente para com eles em
seus pecados.
12. Porque, quem ousarل dizer-vos: Que fizeste tu? E quem se
oporل a vosso julgamento? Quem vos repreenderل de terdes aniquilado
naçُes que criastes? Ou quem se levantarل contra vَs para defender os
culpados?
13. Nمo hل, fora de vَs, um Deus que se ocupa de tudo, e a quem
deveis mostrar que nada é injusto em vosso julgamentos;
14. nem um rei, nem um tirano que vos possa resistir em favor dos
que castigastes.
15. Mas porque sois justo, governais com toda a justiça, e
julgais indigno de vosso poder condenar quem nمo merece ser punido.
16. Porque vossa força é o fundamento de vossa justiça e o fato
de serdes Senhor de todos, vos torna indulgente para com todos.
17. Mostrais vossa força aos que nمo crêem no vosso poder, e
confundis os que a nمo conhecem e ousam afrontل-la.
18. Senhor de vossa força, julgais com bondade, e nos governais
com grande indulgência, porque sempre vos é possيvel empregar vosso
poder, quando quiserdes.
19. Agindo desta maneira, mostrastes a vosso povo que o justo
deve ser cheio de bondade, e inspirastes a vossos filhos a boa esperança
de que, apَs o pecado, lhes dareis tempo para a penitência;
20. porque se os inimigos de vossos filhos, dignos de morte, vَs
os haveis castigado com tanta prudência e longanimidade, dando-lhes
tempo e ocasiمo para se emendarem,
21. com quanto cuidado nمo julgareis vَs os vossos filhos, a
cujos antepassados concedestes com juramento vossa aliança, repleta de
ricas promessas!
22. Portanto, quando nos corrigis, castigais mil vezes mais
nossos inimigos, para que em nossos julgamentos nos lembremos de vossa
bondade, e para que esperemos em vossa indulgência quando somos julgados.
23. Por isso também aqueles que loucamente viveram no mal, vَs os
torturastes por meio das suas prَprias abominaçُes:
24. porque se tinham afastado demais nos caminhos do erro,
tomando por deuses os mais vis animais, deixando-se enganar como meninos
sem razمo;
25. assim é que, como a meninos sem razمo, lhes destes um castigo
irrisَrio.
26. Mas os que recusam a advertência de semelhante correçمo
sofrerمo um castigo digno de Deus.
27. Excitados, entمo, pelos sofrimentos causados por esses
animais que tinham julgado deuses, e que os atormentavam, viram o que no
começo tinham recusado ver, e reconheceram o verdadeiro Deus. Por isso é
que caiu sobre eles a condenaçمo final.
Capيtulo 13
1. Sمo insensatos por natureza todos os que desconheceram a Deus,
e, através dos bens visيveis, nمo souberam conhecer Aquele que é, nem
reconhecer o Artista, considerando suas obras.
2. Tomaram o fogo, ou o vento, ou o ar agitلvel, ou a esfera
estrelada, ou a لgua impetuosa, ou os astros dos céus, por deuses,
regentes do mundo.
3. Se tomaram essas coisas por deuses, encantados pela sua beleza,
saibam, entمo, quanto seu Senhor prevalece sobre elas, porque é o
criador da beleza que fez estas coisas.
4. Se o que os impressionou é a sua força e o seu poder, que eles
compreendam, por meio delas, que seu criador é mais forte;
5. pois é a partir da grandeza e da beleza das criaturas que, por
analogia, se conhece o seu autor.
6. Contudo, estes sَ incorrem numa ligeira censura, porque,
talvez, eles caيram no erro procurando Deus e querendo encontrل-lo:
7. vivendo entre suas obras, eles as observam com cuidado, e
porque eles as consideram belas, deixam-se seduzir pelo seu aspecto.
8. Ainda uma vez, entretanto, eles nمo sمo desculpلveis,
9. porque, se eles possuيram luz suficiente para poder perscrutar
a ordem do mundo, como nمo encontraram eles mais facilmente aquele que é
seu Senhor?
10. Mas sمo desgraçados e esperam em mortos, aqueles que chamaram
de deuses a obras de mمos humanas: o ouro, a prata, artisticamente
trabalhados, figuras de animais, alguma pedra inْtil, a que, outrora,
certa mمo deu forma.
11. Assim, um lenhador cortou e serrou uma لrvore fلcil de
manejar. Habilmente ele lhe tirou toda a casca, e com a habilidade do
seu ofيcio, fez dela um mَvel ْtil para seu uso.
12. Com as sobras de seu trabalho, cozinhou comida, com que se
saciou.
13. O que ainda lhe restava, nمo era bom para nada, nمo passando
de madeira torcida e toda cheia de nَs; contudo, ele a tomou e consagrou
suas horas de lazer a talhل-la; ele a trabalhou com toda a arte que
adquirira, e lhe deu a semelhança de um homem,
14. ou o aspecto de algum vil animal. Pôs-lhe vermelhمo, uma
demمo de uma tinta encarnada, e encobriu-lhe cuidadosamente todo defeito.
15. Em seguida, preparou-lhe um nicho digno dele. e o fixou à
parede, segurando-o com um prego:
16. foi por medo que caيsse, que tomou este cuidado, porque sabe
muito bem que ele nمo pode ajudar-se a si mesmo, pois nمo passa de uma
estلtua que tem necessidade de um apoio.
17. Mas quando lhe implora por seus bens, seus casamentos, seus
filhos, nمo se envergonha de falar ao que é inanimado, e pede saْde ao
que é desprezيvel.
18. Reclama a vida ao que é morto, e procura socorro no que é
débil; e para uma viagem, invoca o que nمo pode andar;
19. para um lucro, um trabalho, o bom êxito de uma obra de suas
mمos, pede a força ao que nem é capaz de mover as mمos.
Capيtulo 14
1. Outro, por sua vez, que quer navegar e se prepara para
atravessar as impetuosas ondas, invoca um madeiro de pior qualidade que
o navio que o leva;
2. porque o desejo do lucro inventou o navio, e uma hلbil
sabedoria dirigiu sua construçمo.
3. Mas sois vَs, Pai, que o governais pela vossa Providência,
porque, se abristes caminho, mesmo no mar, e uma rota segura no meio das
ondas -
4. mostrando por aي que vَs podeis tirar do perigo aquele que as
afronta mesmo sem meios -,
5. quereis entretanto que nمo sejam inْteis as obras de vossa
sabedoria. Por isso os homens confiam a prَpria vida a um pouco de
madeira e atravessam em segurança as ondas num navio.
6. Assim, com efeito, quando na origem dos tempos fizestes
perecer gigantes orgulhosos, a esperança do universo, refugiando-se num
barco, que vossa mمo governava, conservou para o mundo o germe de uma
geraçمo.
7. Porque é bendito o madeiro pelo qual se opera a justiça,
8. mas maldito é o يdolo, ele e o que o fez; este porque o formou,
aquele porque, sendo corruptيvel, leva o nome de deus.
9. Com efeito, Deus odeia tanto o يmpio quanto sua impiedade,
10. e a obra sofrerل o mesmo castigo que o autor.
11. Este é o motivo porque também os يdolos das naçُes serمo
julgados, porque, na criaçمo de Deus, eles se tornaram uma abominaçمo,
objetos de escândalo para os homens, e laços para os pés dos insensatos.
12. ة pela idealizaçمo dos يdolos que começou a apostasia, e sua
invençمo foi a perda dos humanos.
13. Eles nمo existiam no princيpio e nمo durarمo para sempre;
14. a vaidade dos homens os introduziu no mundo. E, por causa
disso, Deus decidiu a sua destruiçمo para breve.
15. Um pai aflito por um luto prematuro, tendo mandado fazer a
imagem do filho, tمo cedo arrebatado, honrou, em seguida, como a um deus
aquele que nمo passava de um morto, e transmitiu, aos seus, certos ritos
secretos e cerimônias.
16. Este costume يmpio, tendo-se firmado com o tempo, foi depois
observado como lei.
17. Foi também em conseqüência das ordens dos prيncipes que se
adoraram imagens esculpidas, porque aqueles que nمo podiam honrar
pessoalmente, porque moravam longe deles, fizeram representar o que se
achava distante, e expuseram publicamente a imagem do rei venerado, a
fim de lisonjeل-lo de longe com seu zelo, como se estivesse presente.
18. Isto contribuiu ainda para o estabelecimento deste culto,
mesmo entre os que nمo conheciam o rei; foi a ambiçمo do artista,
19. que, talvez, querendo agradar ao soberano, deu-lhe, por sua
arte, a semelhança do belo;
20. e a multidمo, seduzida pelo encanto da obra, em breve tomou
por deus aquele que tinham honrado como homem.
21. E isto foi uma cilada para a humanidade: os homens,
sujeitando-se à lei da desgraça e da tirania, deram à pedra e à madeira
o nome incomunicلvel.
22. Como se nمo bastasse terem errado acerca do conhecimento de
Deus, embora passando a vida numa longa luta de ignorância, eles dمo o
nome de paz a um estado tمo infeliz.
23. Com efeito, sacrificando seus filhos, celebrando mistérios
ocultos, ou entregando-se a orgias desenfreadas de religiُes exَticas,
24. eles jل nمo guardam a honestidade nem na vida nem no
casamento, mas um faz desaparecer o outro pelo ardil, ou o ultraja pelo
adultério.
25. Tudo estل numa confusمo completa - sangue, homicيdio, furto,
fraude, corrupçمo, deslealdade, revolta, perjْrio,
26. perseguiçمo dos bons, esquecimento dos benefيcios,
contaminaçمo das almas, perversمo dos sexos, instabilidade das uniُes,
adultérios e impudicيcias -
27. porque o culto de inominلveis يdolos é o começo, a causa e o
fim de todo o mal.
28. (Seus adeptos) incitam o prazer até a loucura, ou fazem
vaticيnios falsos, ou vivem na injustiça, ou, sem escrْpulo, juram falso,
29. porque, confiando em يdolos inanimados, esperam nمo ser
punidos de sua mل fé.
30. Contudo, o castigo os atingirل por duplo motivo: porque eles
desconheceram a Deus, afeiçoando-se aos يdolos, e porque sمo culpados,
por desprezo à santidade da religiمo, de ter feito juramentos
enganadores.
31. Pois nمo é o poder dos يdolos invocados, mas o castigo
reservado ao pecador, que sempre persegue as faltas dos maus.
Capيtulo 15
1. Mas vَs, Deus nosso, sois benfazejo e verdadeiro, vَs sois
paciente e tudo governais com misericَrdia;
2. com efeito, mesmo se pecamos, somos vossos, porque conhecemos
vosso poder; mas nمo pecaremos, cientes de que somos considerados como
vossos.
3. Porque conhecer-vos é a perfeita justiça, e conhecer vosso
poder é a raiz da imortalidade.
4. Nمo fomos seduzidos pelas invençُes da arte corruptora dos
homens nem pelo vمo trabalho dos pintores: borrada figura de cores
misturadas,
5. cuja vista excita os desejos dos insensatos, fantasma
inanimado de uma imagem sem vida que provoca a paixمo!
6. Cativados pelo mal, nمo merecem esperar senمo o mal, os que o
fazem, os que o amam e os que o veneram.
7. Eis, portanto, um oleiro que amassa laboriosamente a terra
mole, e forma diversos objetos para nosso uso, mas da mesma argila faz
vasos destinados a fins nobres e outros, indiferentemente, para usos
opostos. Para qual destes usos cada vaso serل aplicado? O oleiro serل o
juiz.
8. Do mesmo barro, forma também, como obreiro perverso, uma vم
divindade, ele que, ainda hل pouco, nasceu da terra, e em breve voltarل
a ela, de onde foi tirado, quando lhe serمo pedidas as contas de sua
vida.
9. Ele mesmo nمo tem preocupaçمo alguma com o prَprio
desfalecimento, nem com a brevidade da vida; ele rivaliza, pelo
contrلrio, com aqueles que trabalham o ouro e a prata, imita os que
trabalham o cobre.
10. Pَ é o seu coraçمo, mais vil que a terra sua esperança, e pُe
sua glَria em fabricar objetos enganadores. E mais desprezيvel que o
barro é sua vida,
11. porque nمo reconheceu aquele que o formou, aquele que lhe
inspirou uma alma ativa e lhe insuflou o espيrito vital.
12. Para ele a vida é um divertimento, e nossa existência um
mercado lucrativo, porque, diz ele, é preciso aproveitar-se de tudo,
mesmo do mal.
13. Mais que qualquer outro, esse homem sabe que peca, fazendo do
mesmo barro vasos frلgeis e يdolos.
14. Ora, verdadeiramente, muito insensatos, mais infortunados que
a alma da criança, sمo os inimigos de vosso povo, que o oprimiram,
15. porque eles também tiveram por deuses todos os يdolos das
naçُes, que nمo podem servir-se de seus olhos para ver, que nمo têm
nariz para aspirar o ar, nem ouvidos para ouvir, nem os dedos das mمos
para apalpar, e cujos pés sمo incapazes de andar;
16. foi, com efeito, um homem que os fez, formou-os alguém que
recebeu a alma de empréstimo. Nenhum homem pode fazer um deus, mesmo
semelhante a si prَprio,
17. porque, sendo ele prَprio mortal, morto é tudo que produz com
suas mمos يmpias. De fato, ele vale mais que os objetos que venera; ele,
pelo menos, tem vida, enquanto os يdolos nمo a têm.
18. Chega-se até a adorar os mais odiosos animais, que sمo piores
ainda que os outros animais irracionais,
19. que nem mesmo possuem o que outros seres vivos possuem:
bastante beleza para serem amados, e que foram excluيdos da aprovaçمo e
da bênçمo de Deus.
Capيtulo 16
1. Por isso foram justamente castigados por animais dessa espécie
e atormentados por uma multidمo de animais;
2. em vez de feri-lo assim, vَs favorecيeis vosso povo,
satisfazendo por um alimento surpreendente o ardor de seu apetite, e
oferecendo-lhe por alimento codornizes.
3. De tal modo que aqueles, mau grado sua fome, diante do aspecto
hediondo de animais enviados contra eles, experimentaram a nلusea;
estes, apَs uma curta privaçمo, receberam um alimento maravilhoso.
4. Pois era preciso que os primeiros, os opressores, fossem
oprimidos por uma inexorلvel fome, e que aos outros fossem apenas
mostrados os tormentos suportados por seus inimigos.
5. Efetivamente, quando o cruel furor dos animais os atingiu
também, e quando pereceram com a mordedura de sinuosas serpentes, vossa
cَlera nمo durou até o fim.
6. Foram por pouco tempo atormentados, para sua correçمo: eles
possuيram um sinal de salvaçمo que lhes lembrava o preceito de vossa
lei.
7. E quem se voltava para ele era salvo, nمo em vista do objeto
que olhava, mas por vَs, Senhor, que sois o salvador de todos.
8. Com isso mostrلveis a vossos inimigos, que sois vَs que
livrais de todo o mal.
9. Quanto a eles as mordeduras dos gafanhotos e das moscas os
matavam e nمo se encontrou remédio para salvar sua vida, porque mereciam
ser castigados por tais instrumentos;
10. mas a vossos filhos, mesmo os dentes de serpentes venenosas
nمo os puderam vencer, porque sobrevindo a vossa misericَrdia curou-os.
11. Eram picados, para que se lembrassem de vossas palavras, e,
em seguida, ficavam curados, para que nمo viessem a esquecê-las
completamente e a subtraيrem-se a si mesmos de vossos benefيcios.
12. Nمo foi uma erva nem algum ungüento que os curou, mas a vossa
palavra que cura todas as coisas, Senhor.
13. Porque vَs sois senhor da vida e da morte. Vَs conduzis às
portas do Hades e de lل tirais;
14. enquanto o homem, se pode matar por sua maldade, nمo pode
fazer voltar o espيrito uma vez saيdo, nem chamar de volta a alma que o
Hades jل recebeu.
15. Escapar à vossa mمo é impossيvel,
16. e os يmpios, que recusaram conhecer-vos, foram fustigados
pela força de vosso braço, perseguidos por chuvas extraordinلrias,
saraivas e implacلveis tempestades, e consumidos pelo fogo dos raios.
17. O que havia de mais admirلvel ainda, é que, na لgua que tudo
extingue, o fogo tomava mais violência, porque o universo toma a defesa
dos justos.
18. Ora, a chama temperava seu ardor para nمo queimar os animais
enviados contra os يmpios, para que estes se apercebessem e
reconhecessem que eram perseguidos pelo julgamento de Deus.
19. Ora, excedendo sua força habitual, o fogo ardia mesmo no meio
da لgua para destruir os frutos de uma terra inيqua...
20. Mas, pelo contrلrio, foi com o alimento dos anjos que
alimentastes vosso povo, e foi do céu que, sem fadiga, vَs lhe enviastes
um pمo jل preparado, contendo em si todas as delيcias e adaptando-se a
todos os gostos.
21. Esta substância que dلveis se parecia com a doçura que
mostrلveis a vossos filhos. Ela se adaptava ao desejo de quem a comia, e
transformava-se naquilo que cada qual desejava.
22. (Embora fosse como) neve e gelo, ela suportava o fogo sem se
fundir, para mostrar que era para os inimigos que o fogo destruيa as
colheitas, quando ardia, apesar da saraiva, e brilhava debaixo de
chuvas,
23. enquanto que, quando se tratava de alimentar os justos, até
perdia sua natural violência.
24. A criatura que vos é submissa, a vَs, seu Criador, aumenta
sua força para castigar os maus, e os modera para o bem dos que puseram
em vَs sua fé.
25. Do mesmo modo, transformada em tudo que se queria, servia à
vossa generosidade que a todos alimenta, segundo a vontade dos que dela
tinham necessidade,
26. para que os filhos que vَs amais, Senhor, aprendessem que nمo
sمo os frutos da terra que alimentam o homem, mas é vossa palavra que
conserva em vida aqueles que crêem em vَs.
27. O que nمo era destruيdo pelo fogo, fundia-se ao simples calor
de um raio de sol,
28. para que se soubesse que é preciso antecipar-se ao sol para
vos agradecer, e que é preciso adorar-vos antes de raiar o dia;
29. porque a esperança do ingrato é como a geleira do inverno,
que se derramarل como لgua inْtil.
Capيtulo 17
1. Em verdade, grandes e impenetrلveis sمo vossos juيzos, Senhor;
por isso as almas grosseiras caيram no erro.
2. Por terem acreditado que podiam oprimir a santa naçمo, os
يmpios, prisioneiros das trevas e encarcerados por uma longa noite,
jaziam encerrados nas suas casas, tentando escapar à vossa incessante
vigilância.
3. Depois de terem imaginado que, com seus secretos pecados,
ficariam escondidos sob o sombrio véu do esquecimento, eles se viram
dispersados, como presa de um terrيvel espanto, e amedrontados por
alucinaçُes.
4. Mesmo o canto mais afastado em que se abrigavam nمo os punha
ao abrigo do terror: ruيdos aterradores ressoavam em torno deles, e
taciturnos espectros de lْgubre aspecto lhes apareciam.
5. Nenhuma chama, por intensa que fosse, chegava a iluminar. E a
luz brilhante dos astros era impotente para alumiar esta noite sombria.
6. Mas aparecia-lhes de sْbito nada mais que uma chama
aterradora, e, tomados de terror por esta visمo fugitiva, julgavam essas
apariçُes mais terrيveis ainda.
7. A arte dos mلgicos se mostrou ilusَria, e esta sabedoria, a
que eles pretendiam, evidenciou-se vergonhosamente como falsidade.
8. Aqueles que se jactavam de banir das almas doentes o terror e
a perturbaçمo, eram eles mesmos atormentados por um ridيculo temor.
9. Mesmo quando nada de mais grave os aterrorizava, a passagem
dos animais e o silvo das serpentes punham-nos fora de si, e eles
morriam de medo. Recusavam até mesmo contemplar essa atmosfera à qual
nada podia escapar;
10. porque a maldade, condenada por seu prَprio testemunho, é
medrosa, e, sob o peso da consciência, supُe sempre o pior,
11. pois o temor nمo é outra coisa que a privaçمo dos socorros
trazidos pela reflexمo,
12. porque, quanto menor for em sua alma a esperança de auxيlio,
tanto mais penosa é a ignorância daquilo de que se tem medo.
13. Eles, durante essa noite de impotência, saيda dos recantos do
Hades impotente, dormiam num mesmo sono,
14. agitados, de um lado, pelo terror dos espectros, e
paralisados, de outro, pelo desfalecimento da alma; pois era um pavor
repentino e inesperado o que se abatera sobre eles.
15. E todo aquele que caيa sem força, ficava como que preso e
encerrado num cلrcere sem ferros.
16. Fosse ele camponês ou pastor, ou o operلrio que se afadiga
sozinho no seu trabalho, uma vez surpreendido, tinha de suportar a
inevitلvel necessidade, porque todos estavam ligados por uma mesma
cadeia de trevas.
17. O silvo do vento, o canto harmonioso dos passarinhos nos
ramos espessos, o murmْrio da لgua correndo precipitadamente, o estrondo
das rochas que se despenhavam,
18. a carreira invisيvel dos animais que saltavam, os urros dos
animais selvagens, o eco que repercutia nas cavidades dos montes: tudo
os paralisava de terror.
19. Enquanto o mundo inteiro era alumiado de uma brilhante luz, e
sem obstلculo se entregava às suas ocupaçُes,
20. somente sobre eles se estendia uma pesada noite, imagem das
trevas que mais tarde os deviam acolher; e eram para si mesmos um peso
mais insuportلvel que esta escuridمo.
Capيtulo 18
1. Contudo, para vossos santos havia uma luz brilhantيssima. Sem
verem seus semblantes, os outros ouviam-lhes a voz, e julgavam-nos
felizes por nمo sofrerem os mesmos tormentos.
2. Davam-lhes graças, porque nمo se vingavam dos maus tratos
suportados, e pediam-lhes perdمo de sua inimizade.
3. Pelo contrلrio, vَs destes uma coluna luminosa para guiل-los
na sua marcha para o desconhecido, como um sol que sem incomodل-los
alumiava seu glorioso êxodo.
4. Mas eles bem mereciam ser privados da luz e aprisionados nas
trevas, eles, que tinham encerrado em prisُes os vossos filhos, através
dos quais a incorruptيvel luz da lei se devia comunicar ao mundo.
5. Também tinham resolvido levar à morte os filhos dos santos,
mas um deles foi exposto e salvo, e para puni-los fizestes perecer em
multidمo os seus filhos, e, todos juntos, vَs os aniquilastes na
profundeza das لguas.
6. Esta mesma noite tinha sido conhecida de antemمo por nossos
pais, para que, conhecendo bem em que juramentos confiavam, ficassem
cheios de coragem.
7. Assim vosso povo esperava tanto a salvaçمo dos justos como a
perdiçمo dos يmpios,
8. e pelo mesmo fato de terdes destruيdo nossos inimigos, vَs nos
convidastes a ser vossos e nos honrastes.
9. Por isso, os santos filhos dos justos ofereciam secretamente
um sacrifيcio; de comum acordo estabeleciam o pacto divino: que os
santos participariam dos mesmos bens e correriam os mesmos perigos; e
entoavam jل os hinos de seus pais,
10. quando se elevaram os gritos confusos dos inimigos e se
espalharam as lamentaçُes dos que choravam seus filhos.
11. Uma mesma sentença feria o escravo e o senhor, o homem do
povo sofria o mesmo castigo que o rei.
12. Todos igualmente tinham um nْmero incalculلvel de mortos
abatidos da mesma maneira; os sobreviventes nمo eram suficientes para
sepultل-los. porque, num instante, sua melhor geraçمo era exterminada.
13. Depois de terem permanecido incrédulos por causa de seus
sortilégios, reconheceram, vendo morrer seus primogênitos, que esse povo
era verdadeiramente filho de Deus,
14. porque, quando um profundo silêncio envolvia todas as coisas,
e a noite chegava ao meio de seu curso,
15. vossa palavra todo-poderosa desceu dos céus e do trono real,
e, qual um implacلvel guerreiro, arremessou-se sobre a terra condenada à
ruيna.
16. De pé, ela tudo encheu de morte, e, pisando a terra, tocava
os céus.
17. No mesmo instante, visُes e sonhos terrيveis os perturbaram,
e temores inesperados os assaltaram;
18. tombando aqui e acolل, semimortos, revelavam a causa da morte
que os atingia;
19. porque os sonhos que os tinham agitado tinham-nos informado
antecipadamente, para que eles nمo perecessem sem conhecer a causa de
sua desgraça.
20. Verdade é que a prova da morte feriu também os justos, e
numerosos foram os que ela abateu no deserto, mas a ira de Deus nمo
durou muito tempo;
21. porque um homem irrepreensيvel se apressou a tomar sua
defesa, servindo-se das armas de seu ministério pessoal, a oraçمo e o
sacrifيcio expiatَrio do incenso. Opôs-se à ira, e pôs fim ao flagelo,
mostrando que era vosso servo.
22. Dominou a revolta, nمo pela força fيsica, nem pela força das
armas, mas pela sua palavra deteve aquele que castigava, relembrando-lhe
os juramentos feitos aos antepassados e a aliança estabelecida.
23. Jل os mortos se amontoavam uns sobre os outros, quando ele
interveio, deteve a cَlera e afastou-a dos vivos.
24. Na sua longa vestimenta estava representado o universo
inteiro; nas quatro fileiras de pedras os nomes gloriosos dos
patriarcas; e no diadema de sua cabeça vossa Majestade.
25. Diante destas coisas cedeu o exterminador e foi diante destas
coisas que retrocedeu: porque a simples demonstraçمo de vossa ira era
suficiente.
Capيtulo 19
1. Quanto aos يmpios, inexorلvel foi a ira que os perseguiu até o
fim: porque Deus previa o que eles haveriam de fazer,
2. isto é, depois de terem deixado partir (os justos), instando
mesmo que fossem embora, mudariam de opiniمo e os perseguiriam.
3. Na verdade, eles estavam ainda enlutados, e gemiam ainda sobre
a tumba de seus mortos, quando loucamente tomaram outra resoluçمo e
perseguiram, como a fugitivos, aqueles aos quais tinham rogado que
partissem.
4. Um merecido destino os impelia a esse proceder extremo, e os
atirava no olvido dos acontecimentos passados, para que sofressem, em
meio a tormentos, um castigo completo,
5. e fossem feridos de uma morte insَlita, enquanto vosso povo
tentava uma extraordinلria passagem.
6. ة que toda a criaçمo, obedecendo às vossas ordens, foi
remodelada em sua natureza, para que vossos filhos fossem conservados
ilesos.
7. Foi vista uma nuvem cobrir o acampamento, e a terra seca
surgir do que tinha sido لgua, um caminho viلvel formar-se no mar
Vermelho, e um campo verdejante emergir das ondas impetuosas.
8. Por aي passou toda ela, a naçمo dos que vossa mمo protegia, e
que viram singulares prodيgios.
9. Iam como cavalos conduzidos à pastagem, e saltavam como
cordeiros, glorificando-vos a vَs, Senhor, seu libertador,
10. porque eles se lembravam ainda do que tinha acontecido na
terra estrangeira: como a terra, contrariando a geraçمo dos vivos, tinha
produzido moscas, e como o rio, em lugar de peixes, tinha lançado fora
uma multidمo de rمs.
11. Mais tarde, viram ainda nascer uma nova espécie de pلssaros,
quando, premidos pela cobiça, pediram manjares delicados, porquanto,
para satisfazê-los, codornizes subiram do mar.
12. Os castigos nمo surpreenderam os pecadores, sem que fossem
antes advertidos pela violência dos raios.
13. Suportavam justamente o castigo de sua prَpria maldade,
porque tinham mostrado excessivo َdio pelo estrangeiro.
14. Houve muitos que nمo quiseram receber hَspedes desconhecidos,
mas estes reduziram à escravidمo hَspedes que tinham sido benfeitores.
15. E isso nمo é tudo; haverل algo a mais que um castigo qualquer
para aqueles que acolheram mal os estrangeiros:
16. mas estes, a princيpio, receberam bem seus hَspedes, e
concederam-lhes a participaçمo em seus direitos. Em seguida, eles os
encheram de males.
17. Do mesmo modo, foram feridos de cegueira, como aqueles
homens, às portas do justo, quando, envolvidos por uma profunda
escuridمo, procuravam, cada um de seu lado, o caminho para suas casas.
18. Assim, os elementos mudavam suas propriedades entre si, como
na harpa os sons mudam de ritmo, conservando a mesma tonalidade. ة o que
se pode verificar perfeitamente quando se consideram esses
acontecimentos.
19. Os seres terrestres tornavam-se aquلticos, os que nadam
passavam à terra,
20. o fogo era mais violento debaixo da chuva, e a لgua esquecia
a propriedade que tem de extingui-lo.
21. Além disso, as chamas nمo ofendiam as carnes dos frلgeis
animais que as atravessavam, e nمo liqüefaziam esse alimento celeste,
semelhante ao gelo e inteiramente capaz de se derreter.
22. ة que em tudo, Senhor, engrandecestes e glorificastes vosso
povo, e nمo vos dedignastes de assisti-lo em todo o tempo e em todo o
lugar.
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