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Capítulo 1
1. Genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.
2. Abraão gerou Isaac. Isaac gerou Jacó. Jacó gerou Judá e seus
irmãos.
3. Judá gerou, de Tamar, Farés e Zara. Farés gerou Esron. Esron
gerou Arão.
4. Arão gerou Aminadab. Aminadab gerou Naasson. Naasson gerou
Salmon.
5. Salmon gerou Booz, de Raab. Booz gerou Obed, de Rute. Obed
gerou Jessé. Jessé gerou o rei Davi.
6. O rei Davi gerou Salomão, daquela que fora mulher de Urias.
7. Salomão gerou Roboão. Roboão gerou Abias. Abias gerou Asa.
8. Asa gerou Josafá. Josafá gerou Jorão. Jorão gerou Ozias.
9. Ozias gerou Joatão. Joatão gerou Acaz. Acaz gerou Ezequias.
10. Ezequias gerou Manassés. Manassés gerou Amon. Amon gerou
Josias.
11. Josias gerou Jeconias e seus irmãos, no cativeiro de
Babilônia.
12. E, depois do cativeiro de Babilônia, Jeconias gerou Salatiel.
Salatiel gerou Zorobabel.
13. Zorobabel gerou Abiud. Abiud gerou Eliacim. Eliacim gerou
Azor.
14. Azor gerou Sadoc. Sadoc gerou Aquim. Aquim gerou Eliud.
15. Eliud gerou Eleazar. Eleazar gerou Matã. Matã gerou Jacó.
16. Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é
chamado Cristo.
17. Portanto, as gerações, desde Abraão até Davi, são quatorze.
Desde Davi até o cativeiro de Babilônia, quatorze gerações. E, depois do
cativeiro até Cristo, quatorze gerações. Nascimento de Jesus
18. Eis como nasceu Jesus Cristo: Maria, sua mãe, estava
desposada com José. Antes de coabitarem, aconteceu que ela concebeu por
virtude do Espírito Santo.
19. José, seu esposo, que era homem de bem, não querendo
difamá-la, resolveu rejeitá-la secretamente.
20. Enquanto assim pensava, eis que um anjo do Senhor lhe
apareceu em sonhos e lhe disse: José, filho de Davi, não temas receber
Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo.
21. Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque
ele salvará o seu povo de seus pecados.
22. Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor
falou pelo profeta:
23. Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, que se
chamará Emanuel (Is 7, 14), que significa: Deus conosco.
24. Despertando, José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado
e recebeu em sua casa sua esposa.
25. E, sem que ele a tivesse conhecido, ela deu à luz o seu
filho, que recebeu o nome de Jesus.
Capítulo 2
1. Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei
Herodes, eis que magos vieram do oriente a Jerusalém.
2. Perguntaram eles: Onde está o rei dos judeus que acaba de
nascer? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo.
3. A esta notícia, o rei Herodes ficou perturbado e toda
Jerusalém com ele.
4. Convocou os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo e
indagou deles onde havia de nascer o Cristo.
5. Disseram-lhe: Em Belém, na Judéia, porque assim foi escrito
pelo profeta:
6. E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre
as cidades de Judá, porque de ti sairá o chefe que governará Israel, meu
povo(Miq 5,2).
7. Herodes, então, chamou secretamente os magos e perguntou-lhes
sobre a época exata em que o astro lhes tinha aparecido.
8. E, enviando-os a Belém, disse: Ide e informai-vos bem a
respeito do menino. Quando o tiverdes encontrado, comunicai-me, para que
eu também vá adorá-lo.
9. Tendo eles ouvido as palavras do rei, partiram. E eis que e
estrela, que tinham visto no oriente, os foi precedendo até chegar sobre
o lugar onde estava o menino e ali parou.
10. A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria.
11. Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe.
Prostrando-se diante dele, o adoraram. Depois, abrindo seus tesouros,
ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra.
12. Avisados em sonhos de não tornarem a Herodes, voltaram para
sua terra por outro caminho.
13. Depois de sua partida, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a
José e disse: Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito;
fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o
matar.
14. José levantou-se durante a noite, tomou o menino e sua mãe e
partiu para o Egito.
15. Ali permaneceu até a morte de Herodes para que se cumprisse o
que o Senhor dissera pelo profeta: Eu chamei do Egito meu filho (Os
11,1).
16. Vendo, então, Herodes que tinha sido enganado pelos magos,
ficou muito irado e mandou massacrar em Belém e nos seus arredores todos
os meninos de dois anos para baixo, conforme o tempo exato que havia
indagado dos magos.
17. Cumpriu-se, então, o que foi dito pelo profeta Jeremias:
18. Em Ramá se ouviu uma voz, choro e grandes lamentos: é Raquel
a chorar seus filhos; não quer consolação, porque já não existem (Jer
31,15)!
19. Com a morte de Herodes, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a
José, no Egito, e disse:
20. Levanta-te, toma o menino e sua mãe e retorna à terra de
Israel, porque morreram os que atentavam contra a vida do menino.
21. José levantou-se, tomou o menino e sua mãe e foi para a terra
de Israel.
22. Ao ouvir, porém, que Arquelau reinava na Judéia, em lugar de
seu pai Herodes, não ousou ir para lá. Avisado divinamente em sonhos,
retirou-se para a província da Galiléia
23. e veio habitar na cidade de Nazaré para que se cumprisse o
que foi dito pelos profetas: Será chamado Nazareno.
Capítulo 3
1. Naqueles dias, apareceu João Batista, pregando no deserto da
Judéia.
2. Dizia ele: Fazei penitência porque está próximo o Reino dos
céus.
3. Este é aquele de quem falou o profeta Isaías, quando disse:
Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as
suas veredas (Is 40,3).
4. João usava uma vestimenta de pêlos de camelo e um cinto de
couro em volta dos rins. Alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre.
5. Pessoas de Jerusalém, de toda a Judéia e de toda a
circunvizinhança do Jordão vinham a ele.
6. Confessavam seus pecados e eram batizados por ele nas águas do
Jordão.
7. Ao ver, porém, que muitos dos fariseus e dos saduceus vinham
ao seu batismo, disse-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da
cólera vindoura?
8. Dai, pois, frutos de verdadeira penitência.
9. Não digais dentro de vós: Nós temos a Abraão por pai! Pois eu
vos digo: Deus é poderoso para suscitar destas pedras filhos a Abraão.
10. O machado já está posto à raiz das árvores: toda árvore que
não produzir bons frutos será cortada e lançada ao fogo.
11. Eu vos batizo com água, em sinal de penitência, mas aquele
que virá depois de mim é mais poderoso do que eu e nem sou digno de
carregar seus calçados. Ele vos batizará no Espírito Santo e em fogo.
12. Tem na mão a pá, limpará sua eira e recolherá o trigo ao
celeiro. As palhas, porém, queimá-las-á num fogo inextinguível.
13. Da Galiléia foi Jesus ao Jordão ter com João, a fim de ser
batizado por ele.
14. João recusava-se: Eu devo ser batizado por ti e tu vens a
mim!
15. Mas Jesus lhe respondeu: Deixa por agora, pois convém
cumpramos a justiça completa. Então João cedeu.
16. Depois que Jesus foi batizado, saiu logo da água. Eis que os
céus se abriram e viu descer sobre ele, em forma de pomba, o Espírito de
Deus.
17. E do céu baixou uma voz: Eis meu Filho muito amado em quem
ponho minha afeição.
Capítulo 4
1. Em seguida, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto para
ser tentado pelo demônio.
2. Jejuou quarenta dias e quarenta noites. Depois, teve fome.
3. O tentador aproximou-se dele e lhe disse: Se és Filho de Deus,
ordena que estas pedras se tornem pães.
4. Jesus respondeu: Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas
de toda palavra que procede da boca de Deus (Dt 8,3).
5. O demônio transportou-o à Cidade Santa, colocou-o no ponto
mais alto do templo e disse-lhe:
6. Se és Filho de Deus, lança-te abaixo, pois está escrito: Ele
deu a seus anjos ordens a teu respeito; proteger-te-ão com as mãos, com
cuidado, para não machucares o teu pé em alguma pedra (Sl 90,11s).
7. Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor
teu Deus (Dt 6,16).
8. O demônio transportou-o uma vez mais, a um monte muito alto, e
lhe mostrou todos os reinos do mundo e a sua glória, e disse-lhe:
9. Dar-te-ei tudo isto se, prostrando-te diante de mim, me
adorares.
10. Respondeu-lhe Jesus: Para trás, Satanás, pois está escrito:
Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás (Dt 6,13).
11. Em seguida, o demônio o deixou, e os anjos aproximaram-se
dele para servi-lo.
12. Quando, pois, Jesus ouviu que João fora preso, retirou-se
para a Galiléia.
13. Deixando a cidade de Nazaré, foi habitar em Cafarnaum, à
margem do lago, nos confins de Zabulon e Neftali,
14. para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías:
15. A terra de Zabulon e de Neftali, região vizinha ao mar, a
terra além do Jordão, a Galiléia dos gentios,
16. este povo, que jazia nas trevas, viu resplandecer uma grande
luz; e surgiu uma aurora para os que jaziam na região sombria da morte
(Is 9,1).
17. Desde então, Jesus começou a pregar: Fazei penitência, pois o
Reino dos céus está próximo.
18. Caminhando ao longo do mar da Galiléia, viu dois irmãos:
Simão (chamado Pedro) e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar,
pois eram pescadores.
19. E disse-lhes: Vinde após mim e vos farei pescadores de
homens.
20. Na mesma hora abandonaram suas redes e o seguiram.
21. Passando adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de
Zebedeu, e seu irmão João, que estavam com seu pai Zebedeu consertando
as redes. Chamou-os,
22. e eles abandonaram a barca e seu pai e o seguiram.
23. Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando nas suas
sinagogas, pregando o Evangelho do Reino, curando todas as doenças e
enfermidades entre o povo.
24. Sua fama espalhou-se por toda a Síria: traziam-lhe os doentes
e os enfermos, os possessos, os lunáticos, os paralíticos. E ele curava
a todos.
25. Grandes multidões acompanharam-no da Galiléia, da Decápole,
de Jerusalém, da Judéia e dos países do outro lado do Jordão.
Capítulo 5
1. Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e
seus discípulos aproximaram-se dele.
2. Então abriu a boca e lhes ensinava, dizendo:
3. Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é
o Reino dos céus!
4. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!
5. Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra!
6. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque
serão saciados!
7. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão
misericórdia!
8. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!
9. Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de
Deus!
10. Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça,
porque deles é o Reino dos céus!
11. Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos
perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de
mim.
12. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa
nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.
13. Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe
será restituído o sabor? Para nada mais serve senão para ser lançado
fora e calcado pelos homens.
14. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade
situada sobre uma montanha
15. nem se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas
sim para colocá-la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que
estão em casa.
16. Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as
vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus.
17. Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim
para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição.
18. Pois em verdade vos digo: passará o céu e a terra, antes que
desapareça um jota, um traço da lei.
19. Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja,
e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos céus.
Mas aquele que os guardar e os ensinar será declarado grande no Reino
dos céus.
20. Digo-vos, pois, se vossa justiça não for maior que a dos
escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos céus.
21. Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás, mas quem
matar será castigado pelo juízo do tribunal.
22. Mas eu vos digo: todo aquele que se irar contra seu irmão
será castigado pelos juízes. Aquele que disser a seu irmão: Raca, será
castigado pelo Grande Conselho. Aquele que lhe disser: Louco, será
condenado ao fogo da geena.
23. Se estás, portanto, para fazer a tua oferta diante do altar e
te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti,
24. deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro
reconciliar-te com teu irmão; só então vem fazer a tua oferta.
25. Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto
estás em caminho com ele, para que não suceda que te entregue ao juiz, e
o juiz te entregue ao seu ministro e sejas posto em prisão.
26. Em verdade te digo: dali não sairás antes de teres pago o
último centavo.
27. Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério.
28. Eu, porém, vos digo: todo aquele que lançar um olhar de
cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração.
29. Se teu olho direito é para ti causa de queda, arranca-o e
lança-o longe de ti, porque te é preferível perder-se um só dos teus
membros, a que o teu corpo todo seja lançado na geena.
30. E se tua mão direita é para ti causa de queda, corta-a e
lança-a longe de ti, porque te é preferível perder-se um só dos teus
membros, a que o teu corpo inteiro seja atirado na geena.
31. Foi também dito: Todo aquele que rejeitar sua mulher, dê-lhe
carta de divórcio.
32. Eu, porém, vos digo: todo aquele que rejeita sua mulher, a
faz tornar-se adúltera, a não ser que se trate de matrimônio falso; e
todo aquele que desposa uma mulher rejeitada comete um adultério.
33. Ouvistes ainda o que foi dito aos antigos: Não jurarás falso,
mas cumprirás para com o Senhor os teus juramentos.
34. Eu, porém, vos digo: não jureis de modo algum, nem pelo céu,
porque é o trono de Deus;
35. nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés; nem por
Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei.
36. Nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes fazer um cabelo
tornar-se branco ou negro.
37. Dizei somente: Sim, se é sim; não, se é não. Tudo o que passa
além disto vem do Maligno.
38. Tendes ouvido o que foi dito: Olho por olho, dente por dente.
39. Eu, porém, vos digo: não resistais ao mau. Se alguém te ferir
a face direita, oferece-lhe também a outra.
40. Se alguém te citar em justiça para tirar-te a túnica,
cede-lhe também a capa.
41. Se alguém vem obrigar-te a andar mil passos com ele, anda
dois mil.
42. Dá a quem te pede e não te desvies daquele que te quer pedir
emprestado.
43. Tendes ouvido o que foi dito: Amarás o teu próximo e poderás
odiar teu inimigo.
44. Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que
vos odeiam, orai pelos que vos [maltratam e] perseguem.
45. Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois ele faz
nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre
os justos e sobre os injustos.
46. Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não
fazem assim os próprios publicanos?
47. Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de
extraordinário? Não fazem isto também os pagãos?
48. Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é
perfeito.
Capítulo 6
1. Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens, para
serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis recompensa junto de
vosso Pai que está no céu.
2. Quando, pois, dás esmola, não toques a trombeta diante de ti,
como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados
pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa.
3. Quando deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que fez
a direita.
4. Assim, a tua esmola se fará em segredo; e teu Pai, que vê o
escondido, recompensar-te-á.
5. Quando orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de
orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos
pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa.
6. Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu
Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á.
7. Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem
os pagãos que julgam que serão ouvidos à força de palavras.
8. Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário,
antes que vós lho peçais.
9. Eis como deveis rezar: PAI NOSSO, que estais no céu,
santificado seja o vosso nome;
10. venha a nós o vosso Reino; seja feita a vossa vontade, assim
na terra como no céu.
11. O pão nosso de cada dia nos dai hoje;
12. perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos
que nos ofenderam;
13. e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.
14. Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai
celeste também vos perdoará.
15. Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos
perdoará.
16. Quando jejuardes, não tomeis um ar triste como os hipócritas,
que mostram um semblante abatido para manifestar aos homens que jejuam.
Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa.
17. Quando jejuares, perfuma a tua cabeça e lava o teu rosto.
18. Assim, não parecerá aos homens que jejuas, mas somente a teu
Pai que está presente ao oculto; e teu Pai, que vê num lugar oculto,
recompensar-te-á.
19. Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as
traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam.
20. Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem nem as
traças nem a ferrugem, e os ladrões não furtam nem roubam.
21. Porque onde está o teu tesouro, lá também está teu coração.
22. O olho é a luz do corpo. Se teu olho é são, todo o teu corpo
será iluminado.
23. Se teu olho estiver em mau estado, todo o teu corpo estará
nas trevas. Se a luz que está em ti são trevas, quão espessas deverão
ser as trevas!
24. Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e
amará o outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará o outro. Não podeis
servir a Deus e à riqueza.
25. Portanto, eis que vos digo: não vos preocupeis por vossa
vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis. A vida
não é mais do que o alimento e o corpo não é mais que as vestes?
26. Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem
nos celeiros e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós muito mais
que elas?
27. Qual de vós, por mais que se esforce, pode acrescentar um só
côvado à duração de sua vida?
28. E por que vos inquietais com as vestes? Considerai como
crescem os lírios do campo; não trabalham nem fiam.
29. Entretanto, eu vos digo que o próprio Salomão no auge de sua
glória não se vestiu como um deles.
30. Se Deus veste assim a erva dos campos, que hoje cresce e
amanhã será lançada ao fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé?
31. Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos?
Com que nos vestiremos?
32. São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai
celeste sabe que necessitais de tudo isso.
33. Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e
todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo.
34. Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de
amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu
cuidado.
Capítulo 7
1. Não julgueis, e não sereis julgados.
2. Porque do mesmo modo que julgardes, sereis também vós julgados
e, com a medida com que tiverdes medido, também vós sereis medidos.
3. Por que olhas a palha que está no olho do teu irmão e não vês
a trave que está no teu?
4. Como ousas dizer a teu irmão: Deixa-me tirar a palha do teu
olho, quando tens uma trave no teu?
5. Hipócrita! Tira primeiro a trave de teu olho e assim verás
para tirar a palha do olho do teu irmão.
6. Não lanceis aos cães as coisas santas, não atireis aos porcos
as vossas pérolas, para que não as calquem com os seus pés, e,
voltando-se contra vós, vos despedacem.
7. Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será
aberto.
8. Porque todo aquele que pede, recebe. Quem busca, acha. A quem
bate, abrir-se-á.
9. Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir
pão?
10. E, se lhe pedir um peixe, dar-lhe-á uma serpente?
11. Se vós, pois, que sois maus, sabeis dar boas coisas a vossos
filhos, quanto mais vosso Pai celeste dará boas coisas aos que lhe
pedirem.
12. Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a
eles. Esta é a lei e os profetas.
13. Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso
o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram.
14. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e
raros são os que o encontram.
15. Guardai-vos dos falsos profetas. Eles vêm a vós disfarçados
de ovelhas, mas por dentro são lobos arrebatadores.
16. Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas
dos espinhos e figos dos abrolhos?
17. Toda árvore boa dá bons frutos; toda árvore má dá maus
frutos.
18. Uma árvore boa não pode dar maus frutos; nem uma árvore má,
bons frutos.
19. Toda árvore que não der bons frutos será cortada e lançada ao
fogo.
20. Pelos seus frutos os conhecereis.
21. Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino
dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.
22. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não pregamos nós
em vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios e
fizemos muitos milagres?
23. E, no entanto, eu lhes direi: Nunca vos conheci. Retirai-vos
de mim, operários maus!
24. Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em
prática é semelhante a um homem prudente, que edificou sua casa sobre a
rocha.
25. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e
investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu, porque estava
edificada na rocha.
26. Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as põe em
prática é semelhante a um homem insensato, que construiu sua casa na
areia.
27. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e
investiram contra aquela casa; ela caiu e grande foi a sua ruína.
28. Quando Jesus terminou o discurso, a multidão ficou
impressionada com a sua doutrina.
29. Com efeito, ele a ensinava como quem tinha autoridade e não
como os seus escribas.
Capítulo 8
1. Tendo Jesus descido da montanha, uma grande multidão o seguiu.
2. Eis que um leproso aproximou-se e prostrou-se diante dele,
dizendo: Senhor, se queres, podes curar-me.
3. Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: Eu quero, sê curado. No
mesmo instante, a lepra desapareceu.
4. Jesus então lhe disse: Vê que não o digas a ninguém. Vai,
porém, mostrar-te ao sacerdote e oferece o dom prescrito por Moisés em
testemunho de tua cura.
5. Entrou Jesus em Cafarnaum. Um centurião veio a ele e lhe fez
esta súplica:
6. Senhor, meu servo está em casa, de cama, paralítico, e sofre
muito.
7. Disse-lhe Jesus: Eu irei e o curarei.
8. Respondeu o centurião: Senhor, eu não sou digno de que entreis
em minha casa. Dizei uma só palavra e meu servo será curado.
9. Pois eu também sou um subordinado e tenho soldados às minhas
ordens. Eu digo a um: Vai, e ele vai; a outro: Vem, e ele vem; e a meu
servo: Faze isto, e ele o faz...
10. Ouvindo isto, cheio de admiração, disse Jesus aos presentes:
Em verdade vos digo: não encontrei semelhante fé em ninguém de Israel.
11. Por isso, eu vos declaro que multidões virão do Oriente e do
Ocidente e se assentarão no Reino dos céus com Abraão, Isaac e Jacó,
12. enquanto os filhos do Reino serão lançados nas trevas
exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes.
13. Depois, dirigindo-se ao centurião, disse: Vai, seja-te feito
conforme a tua fé. Na mesma hora o servo ficou curado.
14. Foi então Jesus à casa de Pedro, cuja sogra estava de cama,
com febre.
15. Tomou-lhe a mão, e a febre a deixou. Ela levantou-se e pôs-se
a servi-los.
16. Pela tarde, apresentaram-lhe muitos possessos de demônios.
Com uma palavra expulsou ele os espíritos e curou todos os enfermos.
17. Assim se cumpriu a predição do profeta Isaías: Tomou as
nossas enfermidades e sobrecarregou-se dos nossos males (Is 53,4).
18. Certo dia, vendo-se no meio de grande multidão, ordenou Jesus
que o levassem para a outra margem do lago.
19. Nisto aproximou-se dele um escriba e lhe disse: Mestre,
seguir-te-ei para onde quer que fores.
20. Respondeu Jesus: As raposas têm suas tocas e as aves do céu,
seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça.
21. Outra vez um dos seus discípulos lhe disse: Senhor, deixa-me
ir primeiro enterrar meu pai.
22. Jesus, porém, lhe respondeu: Segue-me e deixa que os mortos
enterrem seus mortos.
23. Subiu ele a uma barca com seus discípulos.
24. De repente, desencadeou-se sobre o mar uma tempestade tão
grande, que as ondas cobriam a barca. Ele, no entanto, dormia.
25. Os discípulos achegaram-se a ele e o acordaram, dizendo:
Senhor, salva-nos, nós perecemos!
26. E Jesus perguntou: Por que este medo, gente de pouca fé?
Então, levantando-se, deu ordens aos ventos e ao mar, e fez-se uma
grande calmaria.
27. Admirados, diziam: Quem é este homem a quem até os ventos e o
mar obedecem?
28. No outro lado do lago, na terra dos gadarenos, dois possessos
de demônios saíram de um cemitério e vieram-lhe ao encontro. Eram tão
furiosos que pessoa alguma ousava passar por ali.
29. Eis que se puseram a gritar: Que tens a ver conosco, Filho de
Deus? Vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?
30. Havia, não longe dali, uma grande manada de porcos que
pastava.
31. Os demônios imploraram a Jesus: Se nos expulsas, envia-nos
para aquela manada de porcos.
32. Ide, disse-lhes. Eles saíram e entraram nos porcos. Nesse
instante toda a manada se precipitou pelo declive escarpado para o lago,
e morreu nas águas.
33. Os guardas fugiram e foram contar na cidade o que se tinha
passado e o sucedido com os endemoninhados.
34. Então a população saiu ao encontro de Jesus. Quando o viu,
suplicou-lhe que deixasse aquela região.
Capítulo 9
1. Jesus tomou de novo a barca, passou o lago e veio para a sua
cidade.
2. Eis que lhe apresentaram um paralítico estendido numa padiola.
Jesus, vendo a fé daquela gente, disse ao paralítico: "Meu filho,
coragem! Teus pecados te são perdoados."
3. Ouvindo isto, alguns escribas murmuraram entre si: "Este homem
blasfema."
4. Jesus, penetrando-lhes os pensamentos, perguntou-lhes: "Por
que pensais mal em vossos corações?
5. Que é mais fácil dizer: Teus pecados te são perdoados, ou:
Levanta-te e anda?
6. Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra o
poder de perdoar os pecados: Levanta-te - disse ele ao paralítico -,
toma a tua maca e volta para tua casa."
7. Levantou-se aquele homem e foi para sua casa.
8. Vendo isto, a multidão encheu-se de medo e glorificou a Deus
por ter dado tal poder aos homens.
9. Partindo dali, Jesus viu um homem chamado Mateus, que estava
sentado no posto do pagamento das taxas. Disse-lhe: Segue-me. O homem
levantou-se e o seguiu.
10. Como Jesus estivesse à mesa na casa desse homem, numerosos
publicanos e pecadores vieram e sentaram-se com ele e seus discípulos.
11. Vendo isto, os fariseus disseram aos discípulos: "Por que
come vosso mestre com os publicanos e com os pecadores?"
12. Jesus, ouvindo isto, respondeu-lhes: "Não são os que estão
bem que precisam de médico, mas sim os doentes.
13. Ide e aprendei o que significam estas palavras: Eu quero a
misericórdia e não o sacrifício (Os 6,6). Eu não vim chamar os justos,
mas os pecadores."
14. Então os discípulos de João, dirigindo-se a ele, perguntaram:
"Por que jejuamos nós e os fariseus, e os teus discípulos não?"
15. Jesus respondeu: Podem os amigos do esposo afligir-se
enquanto o esposo está com eles? Dias virão em que lhes será tirado o
esposo. Então eles jejuarão.
16. Ninguém põe um remendo de pano novo numa veste velha, porque
arrancaria uma parte da veste e o rasgão ficaria pior.
17. Não se coloca tampouco vinho novo em odres velhos; do
contrário, os odres se rompem, o vinho se derrama e os odres se perdem.
Coloca-se, porém, o vinho novo em odres novos, e assim tanto um como
outro se conservam.
18. Falava ele ainda, quando se apresentou um chefe da sinagoga.
Prostrou-se diante dele e lhe disse: Senhor, minha filha acaba de
morrer. Mas vem, impõe-lhe as mãos e ela viverá.
19. Jesus levantou-se e o foi seguindo com seus discípulos.
20. Ora, uma mulher atormentada por um fluxo de sangue, havia
doze anos, aproximou-se dele por trás e tocou-lhe a orla do manto.
21. Dizia consigo: Se eu somente tocar na sua vestimenta, serei
curada.
22. Jesus virou-se, viu-a e disse-lhe: Tem confiança, minha
filha, tua fé te salvou. E a mulher ficou curada instantaneamente.
23. Chegando à casa do chefe da sinagoga, viu Jesus os tocadores
de flauta e uma multidão alvoroçada. Disse-lhes:
24. Retirai-vos, porque a menina não está morta; ela dorme. Eles,
porém, zombavam dele.
25. Tendo saído a multidão, ele entrou, tomou a menina pela mão e
ela levantou-se.
26. Esta notícia espalhou-se por toda a região.
27. Partindo Jesus dali, dois cegos o seguiram, gritando: Filho
de Davi, tem piedade de nós!
28. Jesus entrou numa casa e os cegos aproximaram-se dele.
Disse-lhes: Credes que eu posso fazer isso? Sim, Senhor, responderam
eles.
29. Então ele tocou-lhes nos olhos, dizendo: Seja-vos feito
segundo vossa fé.
30. No mesmo instante, os seus olhos se abriram. Recomendou-lhes
Jesus em tom severo: Vede que ninguém o saiba.
31. Mas apenas haviam saído, espalharam a sua fama por toda a
região.
32. Logo que se foram, apresentaram-lhe um mudo, possuído do
demônio.
33. O demônio foi expulso, o mudo falou e a multidão exclamava
com admiração: Jamais se viu algo semelhante em Israel.
34. Os fariseus, porém, diziam: É pelo príncipe dos demônios que
ele expulsa os demônios.
35. Jesus percorria todas as cidades e aldeias. Ensinava nas
sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo mal e toda
enfermidade.
6. Vendo a multidão, ficou tomado de compaixão, porque estava
enfraquecida e abatida como ovelhas sem pastor.
37. Disse, então, aos seus discípulos: A messe é grande, mas os
operários são poucos.
38. Pedi, pois, ao Senhor da messe que envie operários para sua
messe.
Capítulo 10
1. Jesus reuniu seus doze discípulos. Conferiu-lhes o poder de
expulsar os espíritos imundos e de curar todo mal e toda enfermidade.
2. Eis os nomes dos doze apóstolos: o primeiro, Simão, chamado
Pedro; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu
irmão.
3. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho
de Alfeu, e Tadeu.
4. Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor.
5. Estes são os Doze que Jesus enviou em missão, após lhes ter
dado as seguintes instruções: Não ireis ao meio dos gentios nem
entrareis em Samaria;
6. ide antes às ovelhas que se perderam da casa de Israel.
7. Por onde andardes, anunciai que o Reino dos céus está próximo.
8. Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os
leprosos, expulsai os demônios. Recebestes de graça, de graça dai!
9. Não leveis nem ouro, nem prata, nem dinheiro em vossos cintos,
10. nem mochila para a viagem, nem duas túnicas, nem calçados,
nem bastão; pois o operário merece o seu sustento.
11. Nas cidades ou aldeias onde entrardes, informai-vos se há
alguém ali digno de vos receber; ficai ali até a vossa partida.
12. Entrando numa casa, saudai-a: Paz a esta casa.
13. Se aquela casa for digna, descerá sobre ela vossa paz; se,
porém, não o for, vosso voto de paz retornará a vós.
14. Se não vos receberem e não ouvirem vossas palavras, quando
sairdes daquela casa ou daquela cidade, sacudi até mesmo o pó de vossos
pés.
15. Em verdade vos digo: no dia do juízo haverá mais indulgência
com Sodoma e Gomorra que com aquela cidade.
16. Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, pois,
prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas.
17. Cuidai-vos dos homens. Eles vos levarão aos seus tribunais e
açoitar-vos-ão com varas nas suas sinagogas.
18. Sereis por minha causa levados diante dos governadores e dos
reis: servireis assim de testemunho para eles e para os pagãos.
19. Quando fordes presos, não vos preocupeis nem pela maneira com
que haveis de falar, nem pelo que haveis de dizer: naquele momento
ser-vos-á inspirado o que haveis de dizer.
20. Porque não sereis vós que falareis, mas é o Espírito de vosso
Pai que falará em vós.
21. O irmão entregará seu irmão à morte. O pai, seu filho. Os
filhos levantar-se-ão contra seus pais e os matarão.
22. Sereis odiados de todos por causa de meu nome, mas aquele que
perseverar até o fim será salvo.
23. Se vos perseguirem numa cidade, fugi para uma outra. Em
verdade vos digo: não acabareis de percorrer as cidades de Israel antes
que volte o Filho do Homem.
24. O discípulo não é mais que o mestre, o servidor não é mais
que o patrão.
25. Basta ao discípulo ser tratado como seu mestre, e ao servidor
como seu patrão. Se chamaram de Beelzebul ao pai de família, quanto mais
o farão às pessoas de sua casa!
26. Não os temais, pois; porque nada há de escondido que não
venha à luz, nada de secreto que não se venha a saber.
27. O que vos digo na escuridão, dizei-o às claras. O que vos é
dito ao ouvido, publicai-o de cima dos telhados.
28. Não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a
alma; temei antes aquele que pode precipitar a alma e o corpo na geena.
29. Não se vendem dois passarinhos por um asse? No entanto,
nenhum cai por terra sem a vontade de vosso Pai.
30. Até os cabelos de vossa cabeça estão todos contados.
31. Não temais, pois! Bem mais que os pássaros valeis vós.
32. Portanto, quem der testemunho de mim diante dos homens,
também eu darei testemunho dele diante de meu Pai que está nos céus.
33. Aquele, porém, que me negar diante dos homens, também eu o
negarei diante de meu Pai que está nos céus.
34. Não julgueis que vim trazer a paz à terra. Vim trazer não a
paz, mas a espada.
35. Eu vim trazer a divisão entre o filho e o pai, entre a filha
e a mãe, entre a nora e a sogra,
36. e os inimigos do homem serão as pessoas de sua própria casa.
37. Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a mim, não é digno de
mim. Quem ama seu filho mais que a mim, não é digno de mim.
38. Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim.
39. Aquele que tentar salvar a sua vida, perdê-la-á. Aquele que a
perder, por minha causa, reencontrá-la-á.
40. Quem vos recebe, a mim recebe. E quem me recebe, recebe
aquele que me enviou.
41. Aquele que recebe um profeta, na qualidade de profeta,
receberá uma recompensa de profeta. Aquele que recebe um justo, na
qualidade de justo, receberá uma recompensa de justo.
42. Todo aquele que der ainda que seja somente um copo de água
fresca a um destes pequeninos, porque é meu discípulo, em verdade eu vos
digo: não perderá sua recompensa.
Capítulo 11
1. Após ter dado instruções aos seus doze discípulos, Jesus
partiu para ensinar e pregar nas cidades daquela região.
2. Tendo João, em sua prisão, ouvido falar das obras de Cristo,
mandou-lhe dizer pelos seus discípulos:
3. Sois vós aquele que deve vir, ou devemos esperar por outro?
4. Respondeu-lhes Jesus: Ide e contai a João o que ouvistes e o
que vistes:
5. os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os
surdos ouvem, os mortos ressuscitam, o Evangelho é anunciado aos
pobres...
6. Bem-aventurado aquele para quem eu não for ocasião de queda!
7. Tendo eles partido, disse Jesus à multidão a respeito de João:
Que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento?
8. Que fostes ver, então? Um homem vestido com roupas luxuosas?
Mas os que estão revestidos de tais roupas vivem nos palácios dos reis.
9. Então por que fostes para lá? Para ver um profeta? Sim,
digo-vos eu, mais que um profeta.
10. É dele que está escrito: Eis que eu envio meu mensageiro
diante de ti para te preparar o caminho (Ml 3,1).
11. Em verdade vos digo: entre os filhos das mulheres, não surgiu
outro maior que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos céus é
maior do que ele.
12. Desde a época de João Batista até o presente, o Reino dos
céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam.
13. Porque os profetas e a lei tiveram a palavra até João.
14. E, se quereis compreender, é ele o Elias que devia voltar.
15. Quem tem ouvidos, ouça.
16. A quem hei de comparar esta geração? É semelhante a meninos
sentados nas praças que gritam aos seus companheiros:
17. Tocamos a flauta e não dançais, cantamos uma lamentação e não
chorais.
18. João veio; ele não bebia e não comia, e disseram: Ele está
possesso de um demônio.
19. O Filho do Homem vem, come e bebe, e dizem: É um comilão e
beberrão, amigo dos publicanos e dos devassos. Mas a sabedoria foi
justificada por seus filhos.
20. Depois Jesus começou a censurar as cidades, onde tinha feito
grande número de seus milagres, por terem recusado arrepender-se:
21. Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! Porque se tivessem
sido feitos em Tiro e em Sidônia os milagres que foram feitos em vosso
meio, há muito tempo elas se teriam arrependido sob o cilício e a cinza.
22. Por isso vos digo: no dia do juízo, haverá menor rigor para
Tiro e para Sidônia que para vós!
23. E tu, Cafarnaum, serás elevada até o céu? Não! Serás atirada
até o inferno! Porque, se Sodoma tivesse visto os milagres que foram
feitos dentro dos teus muros, subsistiria até este dia.
24. Por isso te digo: no dia do juízo, haverá menor rigor para
Sodoma do que para ti!
25. Por aquele tempo, Jesus pronunciou estas palavras: Eu te
bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas
aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos.
26. Sim, Pai, eu te bendigo, porque assim foi do teu agrado.
27. Todas as coisas me foram dadas por meu Pai; ninguém conhece o
Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a
quem o Filho quiser revelá-lo.
28. Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu
vos aliviarei.
29. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu
sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas
almas.
30. Porque meu jugo é suave e meu peso é leve.
Capítulo 12
1. Atravessava Jesus os campos de trigo num dia de sábado. Seus
discípulos, tendo fome, começaram a arrancar as espigas para comê-las.
2. Vendo isto, os fariseus disseram-lhe: Eis que teus discípulos
fazem o que é proibido no dia de sábado.
3. Jesus respondeu-lhes: Não lestes o que fez Davi num dia em que
teve fome, ele e seus companheiros,
4. como entrou na casa de Deus e comeu os pães da proposição?
Ora, nem a ele nem àqueles que o acompanhavam era permitido comer esses
pães reservados só aos sacerdotes.
5. Não lestes na lei que, nos dias de sábado, os sacerdotes
transgridem no templo o descanso do sábado e não se tornam culpados?
6. Ora, eu vos declaro que aqui está quem é maior que o templo.
7. Se compreendêsseis o sentido destas palavras: Quero a
misericórdia e não o sacrifício... não condenaríeis os inocentes.
8. Porque o Filho do Homem é senhor também do sábado.
9. Partindo dali, Jesus entrou na sinagoga.
10. Encontrava-se lá um homem que tinha a mão seca. Alguém
perguntou a Jesus: É permitido curar no dia de sábado? Isto para poder
acusá-lo.
11. Jesus respondeu-lhe: Há alguém entre vós que, tendo uma única
ovelha e se esta cair num poço no dia de sábado, não a irá procurar e
retirar?
12. Não vale o homem muito mais que uma ovelha? É permitido,
pois, fazer o bem no dia de sábado.
13. Disse, então, àquele homem: Estende a mão. Ele a estendeu e
ela tornou-se sã como a outra.
14. Os fariseus saíram dali e deliberaram sobre os meios de o
matar.
15. Jesus soube disso e afastou-se daquele lugar. Uma grande
multidão o seguiu, e ele curou todos os seus doentes.
16. Proibia-lhes formalmente falar disso,
17. para que se cumprisse o anunciado pelo profeta Isaías:
18. Eis o meu servo a quem escolhi, meu bem-amado em quem minha
alma pôs toda sua a afeição. Farei repousar sobre ele o meu Espírito e
ele anunciará a justiça aos pagãos.
19. Ele não disputará, não elevará sua voz; ninguém ouvirá sua
voz nas praças públicas.
20. Não quebrará o caniço rachado, nem apagará a mecha que ainda
fumega, até que faça triunfar a justiça.
21. Em seu nome as nações pagãs porão sua esperança (Is 42,1-4).
22. Apresentaram-lhe, depois, um possesso cego e mudo. Jesus o
curou de tal modo, que este falava e via.
23. A multidão, admirada, dizia: Não será este o filho de Davi?
24. Mas, ouvindo isto, os fariseus responderam: É por Beelzebul,
chefe dos demônios, que ele os expulsa.
25. Jesus, porém, penetrando nos seus pensamentos, disse: Todo
reino dividido contra si mesmo será destruído. Toda cidade, toda casa
dividida contra si mesma não pode subsistir.
26. Se Satanás expele Satanás, está dividido contra si mesmo.
Como, pois, subsistirá o seu reino?
27. E se eu expulso os demônios por Beelzebul, por quem é que
vossos filhos os expulsam? Por isso, eles mesmos serão vossos juízes.
28. Mas, se é pelo Espírito de Deus que expulso os demônios,
então chegou para vós o Reino de Deus.
29. Como pode alguém penetrar na casa de um homem forte e
roubar-lhe os bens, sem ter primeiro amarrado este homem forte? Só então
pode roubar sua casa.
30. Quem não está comigo está contra mim; e quem não ajunta
comigo, espalha.
31. Por isso, eu vos digo: todo pecado e toda blasfêmia serão
perdoados aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não lhes será
perdoada.
32. Todo o que tiver falado contra o Filho do Homem será
perdoado. Se, porém, falar contra o Espírito Santo, não alcançará perdão
nem neste século nem no século vindouro.
33. Ou dizeis que a árvore é boa e seu fruto bom, ou dizeis que é
má e seu fruto, mau; porque é pelo fruto que se conhece a árvore.
34. Raça de víboras, maus como sois, como podeis dizer coisas
boas? Porque a boca fala do que lhe transborda do coração.
35. O homem de bem tira boas coisas de seu bom tesouro. O mau,
porém, tira coisas más de seu mau tesouro.
36. Eu vos digo: no dia do juízo os homens prestarão contas de
toda palavra vã que tiverem proferido.
37. É por tuas palavras que serás justificado ou condenado.
38. Então alguns escribas e fariseus tomaram a palavra: Mestre,
quiséramos ver-te fazer um milagre.
39. Respondeu-lhes Jesus: Esta geração adúltera e perversa pede
um sinal, mas não lhe será dado outro sinal do que aquele do profeta
Jonas:
40. do mesmo modo que Jonas esteve três dias e três noites no
ventre do peixe, assim o Filho do Homem ficará três dias e três noites
no seio da terra.
41. No dia do juízo, os ninivitas se levantarão com esta raça e a
condenarão, porque fizeram penitência à voz de Jonas. Ora, aqui está
quem é mais do que Jonas.
42. No dia do juízo, a rainha do Sul se levantará com esta raça e
a condenará, porque veio das extremidades da terra para ouvir a
sabedoria de Salomão. Ora, aqui está quem é mais do que Salomão.
43. Quando o espírito impuro sai de um homem, ei-lo errante por
lugares áridos à procura de um repouso que não acha.
44. Diz ele, então: Voltarei para a casa donde saí. E, voltando,
encontra-a vazia, limpa e enfeitada.
45. Vai, então, buscar sete outros espíritos piores que ele, e
entram nessa casa e se estabelecem aí; e o último estado daquele homem
torna-se pior que o primeiro. Tal será a sorte desta geração perversa.
46. Jesus falava ainda à multidão, quando veio sua mãe e seus
irmãos e esperavam do lado de fora a ocasião de lhe falar.
47. Disse-lhe alguém: Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e
querem falar-te.
48. Jesus respondeu-lhe: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?
49. E, apontando com a mão para os seus discípulos, acrescentou:
Eis aqui minha mãe e meus irmãos.
50. Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus,
esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.
Capítulo 13
1. Naquele dia, saiu Jesus e sentou-se à beira do lago.
2. Acercou-se dele, porém, uma tal multidão, que precisou entrar
numa barca. Nela se assentou, enquanto a multidão ficava à margem.
3. E seus discursos foram uma série de parábolas.
4. Disse ele: Um semeador saiu a semear. E, semeando, parte da
semente caiu ao longo do caminho; os pássaros vieram e a comeram.
5. Outra parte caiu em solo pedregoso, onde não havia muita
terra, e nasceu logo, porque a terra era pouco profunda.
6. Logo, porém, que o sol nasceu, queimou-se, por falta de
raízes.
7. Outras sementes caíram entre os espinhos: os espinhos
cresceram e as sufocaram.
8. Outras, enfim, caíram em terra boa: deram frutos, cem por um,
sessenta por um, trinta por um.
9. Aquele que tem ouvidos, ouça.
10. Os discípulos aproximaram-se dele, então, para dizer-lhe: Por
que lhes falas em parábolas?
11. Respondeu Jesus: Porque a vós é dado compreender os mistérios
do Reino dos céus, mas a eles não.
12. Ao que tem, se lhe dará e terá em abundância, mas ao que não
tem será tirado até mesmo o que tem.
13. Eis por que lhes falo em parábolas: para que, vendo, não
vejam e, ouvindo, não ouçam nem compreendam.
14. Assim se cumpre para eles o que foi dito pelo profeta Isaías:
Ouvireis com vossos ouvidos e não entendereis, olhareis com vossos olhos
e não vereis,
15. porque o coração deste povo se endureceu: taparam os seus
ouvidos e fecharam os seus olhos, para que seus olhos não vejam e seus
ouvidos não ouçam, nem seu coração compreenda; para que não se convertam
e eu os sare (Is 6,9s).
16. Mas, quanto a vós, bem-aventurados os vossos olhos, porque
vêem! Ditosos os vossos ouvidos, porque ouvem!
17. Eu vos declaro, em verdade: muitos profetas e justos
desejaram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não
ouviram.
18. Ouvi, pois, o sentido da parábola do semeador:
19. quando um homem ouve a palavra do Reino e não a entende, o
Maligno vem e arranca o que foi semeado no seu coração. Este é aquele
que recebeu a semente à beira do caminho.
20. O solo pedregoso em que ela caiu é aquele que acolhe com
alegria a palavra ouvida,
21. mas não tem raízes, é inconstante: sobrevindo uma tribulação
ou uma perseguição por causa da palavra, logo encontra uma ocasião de
queda.
22. O terreno que recebeu a semente entre os espinhos representa
aquele que ouviu bem a palavra, mas nele os cuidados do mundo e a
sedução das riquezas a sufocam e a tornam infrutuosa.
23. A terra boa semeada é aquele que ouve a palavra e a
compreende, e produz fruto: cem por um, sessenta por um, trinta por um.
24. Jesus propôs-lhes outra parábola: O Reino dos céus é
semelhante a um homem que tinha semeado boa semente em seu campo.
25. Na hora, porém, em que os homens repousavam, veio o seu
inimigo, semeou joio no meio do trigo e partiu.
26. O trigo cresceu e deu fruto, mas apareceu também o joio.
27. Os servidores do pai de família vieram e disseram-lhe: -
Senhor, não semeaste bom trigo em teu campo? Donde vem, pois, o joio?
28. Disse-lhes ele: - Foi um inimigo que fez isto!
Replicaram-lhe: - Queres que vamos e o arranquemos?
29. - Não, disse ele; arrancando o joio, arriscais a tirar também
o trigo.
30. Deixai-os crescer juntos até a colheita. No tempo da
colheita, direi aos ceifadores: arrancai primeiro o joio e atai-o em
feixes para o queimar. Recolhei depois o trigo no meu celeiro.
31. Em seguida, propôs-lhes outra parábola: O Reino dos céus é
comparado a um grão de mostarda que um homem toma e semeia em seu campo.
32. É esta a menor de todas as sementes, mas, quando cresce,
torna-se um arbusto maior que todas as hortaliças, de sorte que os
pássaros vêm aninhar-se em seus ramos.
33. Disse-lhes, por fim, esta outra parábola. O Reino dos céus é
comparado ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de
farinha e que faz fermentar toda a massa.
34. Tudo isto disse Jesus à multidão em forma de parábola. De
outro modo não lhe falava,
35. para que se cumprisse a profecia: Abrirei a boca para ensinar
em parábolas; revelarei coisas ocultas desde a criação (Sl 77,2).
36. Então despediu a multidão. Em seguida, entrou de novo na casa
e seus discípulos agruparam-se ao redor dele para perguntar-lhe:
Explica-nos a parábola do joio no campo.
37. Jesus respondeu: O que semeia a boa semente é o Filho do
Homem.
38. O campo é o mundo. A boa semente são os filhos do Reino. O
joio são os filhos do Maligno.
39. O inimigo, que o semeia, é o demônio. A colheita é o fim do
mundo. Os ceifadores são os anjos.
40. E assim como se recolhe o joio para jogá-lo no fogo, assim
será no fim do mundo.
41. O Filho do Homem enviará seus anjos, que retirarão de seu
Reino todos os escândalos e todos os que fazem o mal
42. e os lançarão na fornalha ardente, onde haverá choro e ranger
de dentes.
43. Então, no Reino de seu Pai, os justos resplandecerão como o
sol. Aquele que tem ouvidos, ouça.
44. O Reino dos céus é também semelhante a um tesouro escondido
num campo. Um homem o encontra, mas o esconde de novo. E, cheio de
alegria, vai, vende tudo o que tem para comprar aquele campo.
45. O Reino dos céus é ainda semelhante a um negociante que
procura pérolas preciosas.
46. Encontrando uma de grande valor, vai, vende tudo o que possui
e a compra.
47. O Reino dos céus é semelhante ainda a uma rede que, jogada ao
mar, recolhe peixes de toda espécie.
48. Quando está repleta, os pescadores puxam-na para a praia,
sentam-se e separam nos cestos o que é bom e jogam fora o que não
presta.
49. Assim será no fim do mundo: os anjos virão separar os maus do
meio dos justos
50. e os arrojarão na fornalha, onde haverá choro e ranger de
dentes.
51. Compreendestes tudo isto? Sim, Senhor, responderam eles.
52. Por isso, todo escriba instruído nas coisas do Reino dos céus
é comparado a um pai de família que tira de seu tesouro coisas novas e
velhas.
53. Após ter exposto as parábolas, Jesus partiu.
54. Foi para a sua cidade e ensinava na sinagoga, de modo que
todos diziam admirados: Donde lhe vem esta sabedoria e esta força
miraculosa?
55. Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua mãe? Não
são seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas?
56. E suas irmãs, não vivem todas entre nós? Donde lhe vem, pois,
tudo isso?
57. E não sabiam o que dizer dele. Disse-lhes, porém, Jesus: É só
em sua pátria e em sua família que um profeta é menosprezado.
58. E, por causa da falta de confiança deles, operou ali poucos
milagres.
Capítulo 14
1. Por aquela mesma época, o tetrarca Herodes ouviu falar de
Jesus.
2. E disse aos seus cortesãos: É João Batista que ressuscitou. É
por isso que ele faz tantos milagres.
3. Com efeito, Herodes havia mandado prender e acorrentar João, e
o tinha mandado meter na prisão por causa de Herodíades, esposa de seu
irmão Filipe.
4. João lhe tinha dito: Não te é permitido tomá-la por mulher!
5. De boa mente o mandaria matar; temia, porém, o povo que
considerava João um profeta.
6. Mas, na festa de aniversário de nascimento de Herodes, a filha
de Herodíades dançou no meio dos convidados e agradou a Herodes.
7. Por isso, ele prometeu com juramento dar-lhe tudo o que lhe
pedisse.
8. Por instigação de sua mãe, ela respondeu: Dá-me aqui, neste
prato, a cabeça de João Batista.
9. O rei entristeceu-se, mas como havia jurado diante dos
convidados, ordenou que lha dessem;
10. e mandou decapitar João na sua prisão.
11. A cabeça foi trazida num prato e dada à moça, que a entregou
à sua mãe.
12. Vieram, então, os discípulos de João transladar seu corpo, e
o enterraram. Depois foram dar a notícia a Jesus.
13. A essa notícia, Jesus partiu dali numa barca para se retirar
a um lugar deserto, mas o povo soube e a multidão das cidades o seguiu a
pé.
14. Quando desembarcou, vendo Jesus essa numerosa multidão,
moveu-se de compaixão para ela e curou seus doentes.
15. Caía a tarde. Agrupados em volta dele, os discípulos
disseram-lhe: Este lugar é deserto e a hora é avançada. Despede esta
gente para que vá comprar víveres na aldeia.
16. Jesus, porém, respondeu: Não é necessário: dai-lhe vós mesmos
de comer.
17. Mas, disseram eles, nós não temos aqui mais que cinco pães e
dois peixes. _
18. Trazei-mos, disse-lhes ele.
19. Mandou, então, a multidão assentar-se na relva, tomou os
cinco pães e os dois peixes e, elevando os olhos ao céu, abençoou-os.
Partindo em seguida os pães, deu-os aos seus discípulos, que os
distribuíram ao povo.
20. Todos comeram e ficaram fartos, e, dos pedaços que sobraram,
recolheram doze cestos cheios.
21. Ora, os convivas foram aproximadamente cinco mil homens, sem
contar as mulheres e crianças.
22. Logo depois, Jesus obrigou seus discípulos a entrar na barca
e a passar antes dele para a outra margem, enquanto ele despedia a
multidão.
23. Feito isso, subiu à montanha para orar na solidão. E,
chegando a noite,
estava lá sozinho.
24. Entretanto, já a boa distância da margem, a barca era agitada
pelas ondas, pois o vento era contrário.
25. Pela quarta vigília da noite, Jesus veio a eles, caminhando
sobre o mar.
26. Quando os discípulos o perceberam caminhando sobre as águas,
ficaram com medo: É um fantasma! disseram eles, soltando gritos de
terror.
27. Mas Jesus logo lhes disse: Tranqüilizai-vos, sou eu. Não
tenhais medo!
28. Pedro tomou a palavra e falou: Senhor, se és tu, manda-me ir
sobre as águas até junto de ti!
29. Ele disse-lhe: Vem! Pedro saiu da barca e caminhava sobre as
águas ao encontro de Jesus.
30. Mas, redobrando a violência do vento, teve medo e, começando
a afundar, gritou: Senhor, salva-me!
31. No mesmo instante, Jesus estendeu-lhe a mão, segurou-o e lhe
disse: Homem de pouca fé, por que duvidaste?
32. Apenas tinham subido para a barca, o vento cessou.
33. Então aqueles que estavam na barca prostraram-se diante dele
e disseram: Tu és verdadeiramente o Filho de Deus.
34. E, tendo atravessado, chegaram a Genesaré.
35. As pessoas do lugar o reconheceram e mandaram anunciar por
todos os arredores. Apresentaram-lhe, então, todos os doentes,
36. rogando-lhe que ao menos deixasse tocar na orla de sua veste.
E, todos aqueles que nele tocaram, foram curados.
Capítulo 15
1. Alguns fariseus e escribas de Jerusalém vieram um dia ter com
Jesus e lhe disseram:
2. Por que transgridem teus discípulos a tradição dos antigos?
Nem mesmo lavam as mãos antes de comer.
3. Jesus respondeu-lhes: E vós, por que violais os preceitos de
Deus, por causa de vossa tradição?
4. Deus disse: Honra teu pai e tua mãe; aquele que amaldiçoar seu
pai ou sua mãe será castigado de morte (Ex 20,12; 21,17).
5. Mas vós dizeis: Aquele que disser a seu pai ou a sua mãe:
aquilo com que eu vos poderia assistir, já ofereci a Deus,
6. esse já não é obrigado a socorrer de outro modo a seus pais.
Assim, por causa de vossa tradição, anulais a palavra de Deus.
7. Hipócritas! É bem de vós que fala o profeta Isaías:
8. Este povo somente me honra com os lábios; seu coração, porém,
está longe de mim.
9. Vão é o culto que me prestam, porque ensinam preceitos que só
vêm dos homens (Is 29,13).
10. Depois, reuniu os assistentes e disse-lhes:
11. Ouvi e compreendei. Não é aquilo que entra pela boca que
mancha o homem, mas aquilo que sai dele. Eis o que mancha o homem.
12. Então se aproximaram dele seus discípulos e disseram-lhe:
Sabes que os fariseus se escandalizaram com as palavras que ouviram?
13. Jesus respondeu: Toda planta que meu Pai celeste não plantou
será arrancada pela raiz.
14. Deixai-os. São cegos e guias de cegos. Ora, se um cego conduz
a outro, tombarão ambos na mesma vala.
15. Tomando então a palavra, Pedro disse: Explica-nos esta
parábola.
16. Jesus respondeu: Sois também vós de tão pouca compreensão?
17. Não compreendeis que tudo o que entra pela boca vai ao ventre
e depois é lançado num lugar secreto?
18. Ao contrário, aquilo que sai da boca provém do coração, e é
isso o que mancha o homem.
19. Porque é do coração que provêm os maus pensamentos, os
homicídios, os adultérios, as impurezas, os furtos, os falsos
testemunhos, as calúnias.
20. Eis o que mancha o homem. Comer, porém, sem ter lavado as
mãos, isso não mancha o homem.
21. Jesus partiu dali e retirou-se para os arredores de Tiro e
Sidônia.
22. E eis que uma cananéia, originária daquela terra, gritava:
Senhor, filho
de Davi, tem piedade de mim! Minha filha está cruelmente atormentada por
um demônio.
23. Jesus não lhe respondeu palavra alguma. Seus discípulos
vieram a ele e lhe disseram com insistência: Despede-a, ela nos persegue
com seus gritos.
24. Jesus respondeu-lhes: Não fui enviado senão às ovelhas
perdidas da casa de Israel.
25. Mas aquela mulher veio prostrar-se diante dele, dizendo:
Senhor, ajuda-me!
26. Jesus respondeu-lhe: Não convém jogar aos cachorrinhos o pão
dos filhos. _
27. Certamente, Senhor, replicou-lhe ela; mas os cachorrinhos ao
menos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos...
28. Disse-lhe, então, Jesus: Ó mulher, grande é tua fé! Seja-te
feito como desejas. E na mesma hora sua filha ficou curada.
29. Jesus saiu daquela região e voltou para perto do mar da
Galiléia. Subiu a uma colina e sentou-se ali.
30. Então numerosa multidão aproximou-se dele, trazendo consigo
mudos, cegos, coxos, aleijados e muitos outros enfermos. Puseram-nos aos
seus pés e ele os curou,
31. de sorte que o povo estava admirado ante o espetáculo dos
mudos que falavam, daqueles aleijados curados, de coxos que andavam, dos
cegos que viam; e glorificavam ao Deus de Israel.
32. Jesus, porém, reuniu os seus discípulos e disse-lhes: Tenho
piedade esta multidão: eis que há três dias está perto de mim e não tem
nada para comer. Não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça
no caminho.
33. Disseram-lhe os discípulos: De que maneira procuraremos neste
lugar deserto pão bastante para saciar tal multidão?
34. Pergunta-lhes Jesus: Quantos pães tendes? Sete, e alguns
peixinhos, responderam eles.
35. Mandou, então, a multidão assentar-se no chão,
36. tomou os sete pães e os peixes e abençoou-os. Depois os
partiu e os deu aos discípulos, que os distribuíram à multidão.
37. Todos comeram e ficaram saciados, e, dos pedaços que
restaram, encheram sete cestos.
38. Ora, os que se alimentaram foram quatro mil homens, sem
contar as mulheres e as crianças.
39. Jesus então despediu o povo, subiu para a barca e retornou à
região de Magadã.
Capítulo 16
1. Os fariseus e os saduceus achegaram-se a Jesus para submetê-lo
à prova e pediram-lhe que lhes mostrasse um milagre do céu.
2. Ele lhes respondeu: Quando vem a tarde, dizeis: Haverá bom
tempo, porque o céu está avermelhado.
3. E de manhã: Hoje haverá tormenta, porque o céu está de um
vermelho sombrio.
4. Hipócritas! Sabeis distinguir o aspecto do céu e não podeis
discernir os sinais dos tempos? Essa raça perversa e adúltera pede um
milagre! Mas não lhe será dado outro sinal senão o de Jonas! Depois,
deixando-os, partiu.
5. Ora, passando para a outra margem do lago, os discípulos
haviam esquecido de levar pão.
6. Jesus disse-lhes: Guardai-vos com cuidado do fermento dos
fariseus e dos saduceus.
7. Eles pensavam: É que não trouxemos pão...
8. Jesus, penetrando nos seus pensamentos, disse-lhes: Homens de
pouca fé! Por que julgais que vos falei por não terdes pão?
9. Ainda não compreendeis? Nem vos lembrais dos cinco pães e dos
cinco mil homens, e de quantos cestos recolhestes?
10. Nem dos sete pães para os quatro mil homens e de quantos
cestos enchestes?
11. Por que não compreendeis que não é do pão que eu vos falava,
quando vos disse: Guardai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus?
12. Então entenderam que não dissera que se guardassem do
fermento do pão, mas da doutrina dos fariseus e dos saduceus.
13. Chegando ao território de Cesaréia de Filipe, Jesus perguntou
a seus discípulos: No dizer do povo, quem é o Filho do Homem?
14. Responderam: Uns dizem que é João Batista; outros, Elias;
outros, Jeremias ou um dos profetas.
15. Disse-lhes Jesus: E vós quem dizeis que eu sou?
16. Simão Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!
17. Jesus então lhe disse: Feliz és, Simão, filho de Jonas,
porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que
está nos céus.
18. E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a
minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
19. Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares
na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será
desligado nos céus.
20. Depois, ordenou aos seus discípulos que não dissessem a
ninguém que ele era o Cristo.
21. Desde então, Jesus começou a manifestar a seus discípulos que
precisava ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos
príncipes dos sacerdotes e dos escribas; seria morto e ressuscitaria ao
terceiro dia.
22. Pedro então começou a interpelá-lo e protestar nestes termos:
Que Deus não permita isto, Senhor! Isto não te acontecerá!
23. Mas Jesus, voltando-se para ele, disse-lhe: Afasta-te,
Satanás! Tu és para mim um escândalo; teus pensamentos não são de Deus,
mas dos homens!
24. Em seguida, Jesus disse a seus discípulos: Se alguém quiser
vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.
25. Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas
aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, recobrá-la-á.
26. Que servirá a um homem ganhar o mundo inteiro, se vem a
prejudicar a sua vida? Ou que dará um homem em troca de sua vida?...
27. Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai com
seus anjos, e então recompensará a cada um segundo suas obras.
28. Em verdade vos declaro: muitos destes que aqui estão não
verão a morte, sem que tenham visto o Filho do Homem voltar na majestade
de seu Reino.
Capítulo 17
1. Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu
irmão, e conduziu-os à parte a uma alta montanha.
2. Lá se transfigurou na presença deles: seu rosto brilhou como o
sol, suas vestes tornaram-se resplandecentes de brancura.
3. E eis que apareceram Moisés e Elias conversando com ele.
4. Pedro tomou então a palavra e disse-lhe: Senhor, é bom
estarmos aqui. Se queres, farei aqui três tendas: uma para ti, uma para
Moisés e outra para Elias. Falava ele ainda, quando veio uma nuvem
luminosa e os envolveu. E daquela nuvem fez-se ouvir uma voz que dizia:
Eis o meu Filho muito amado, em quem pus toda minha afeição; ouvi-o.
6. Ouvindo esta voz, os discípulos caíram com a face por terra e
tiveram medo.
7. Mas Jesus aproximou-se deles e tocou-os, dizendo: Levantai-vos
e não temais.
8. Eles levantaram os olhos e não viram mais ninguém, senão
unicamente Jesus.
9. E, quando desciam, Jesus lhes fez esta proibição: Não conteis
a ninguém o que vistes, até que o Filho do Homem ressuscite dos mortos.
10. Em seguida, os discípulos o interrogaram: Por que dizem os
escribas que Elias deve voltar primeiro?
11. Jesus respondeu-lhes: Elias, de fato, deve voltar e
restabelecer todas as coisas.
12. Mas eu vos digo que Elias já veio, mas não o conheceram;
antes, fizeram com ele quanto quiseram. Do mesmo modo farão sofrer o
Filho do Homem.
13. Os discípulos compreenderam, então, que ele lhes falava de
João Batista.
14. E, quando eles se reuniram ao povo, um homem aproximou-se
deles e prostrou-se diante de Jesus,
15. dizendo: Senhor, tem piedade de meu filho, porque é lunático
e sofre muito: ora cai no fogo, ora na água...
16. Já o apresentei a teus discípulos, mas eles não o puderam
curar.
17. Respondeu Jesus: Raça incrédula e perversa, até quando
estarei convosco? Até quando hei de aturar-vos? Trazei-mo.
18. Jesus ameaçou o demônio e este saiu do menino, que ficou
curado na mesma hora.
19. Então os discípulos lhe perguntaram em particular: Por que
não pudemos nós expulsar este demônio?
20. Jesus respondeu-lhes: Por causa de vossa falta de fé. Em
verdade vos digo: se tiverdes fé, como um grão de mostarda, direis a
esta montanha: Transporta-te daqui para lá, e ela irá; e nada vos será
impossível. Quanto a esta espécie de demônio, só se pode expulsar à
força de oração e de jejum.
21. Enquanto caminhava pela Galiléia, Jesus lhes disse: O Filho
do Homem deve ser entregue nas mãos dos homens.
22. Matá-lo-ão, mas ao terceiro dia ressuscitará. E eles ficaram
profundamente aflitos.
23. Logo que chegaram a Cafarnaum, aqueles que cobravam o imposto
da didracma aproximaram-se de Pedro e lhe perguntaram: Teu mestre não
paga a didracma?
24. Paga sim, respondeu Pedro. Mas quando chegaram à casa, Jesus
preveniu-o, dizendo: Que te parece, Simão? Os reis da terra, de quem
recebem os tributos ou os impostos? De seus filhos ou dos estrangeiros?
25. Pedro respondeu: Dos estrangeiros. Jesus replicou: Os filhos,
então, estão isentos.
26. Mas não convém escandalizá-los. Vai ao mar, lança o anzol, e
ao primeiro peixe que pegares abrirás a boca e encontrarás um estatere.
Toma-o e dá-o por mim e por ti.
Capítulo 18
1. Neste momento os discípulos aproximaram-se de Jesus e
perguntaram-lhe: Quem é o maior no Reino dos céus?
2. Jesus chamou uma criancinha, colocou-a no meio deles e disse:
3. Em verdade vos declaro: se não vos transformardes e vos
tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos céus.
4. Aquele que se fizer humilde como esta criança será maior no
Reino dos céus.
5. E o que recebe em meu nome a um menino como este, é a mim que
recebe.
6. Mas, se alguém fizer cair em pecado um destes pequenos que
crêem em mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço a mó de um moinho e
o lançassem no fundo do mar.
7. Ai do mundo por causa dos escândalos! Eles são inevitáveis,
mas ai do homem que os causa!
8. Por isso, se tua mão ou teu pé te fazem cair em pecado,
corta-os e lança-os longe de ti: é melhor para ti entrares na vida coxo
ou manco que, tendo dois pés e duas mãos, seres lançado no fogo eterno.
9. Se teu olho te leva ao pecado, arranca-o e lança-o longe de
ti: é melhor para ti entrares na vida cego de um olho que seres jogado
com teus dois olhos no fogo da geena.
10. Guardai-vos de menosprezar um só destes pequenos, porque eu
vos digo que seus anjos no céu contemplam sem cessar a face de meu Pai
que está nos céus.
11. [Porque o Filho do Homem veio salvar o que estava perdido.]
12. Que vos parece? Um homem possui cem ovelhas: uma delas se
desgarra. Não deixa ele as noventa e nove na montanha, para ir buscar
aquela que se desgarrou?
13. E se a encontra, sente mais júbilo do que pelas noventa e
nove que não se desgarraram.
14. Assim é a vontade de vosso Pai celeste, que não se perca um
só destes pequeninos.
15. Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre
ti e ele somente; se te ouvir, terás ganho teu irmão.
16. Se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim de
que toda a questão se resolva pela decisão de duas ou três testemunhas.
17. Se recusa ouvi-los, dize-o à Igreja. E se recusar ouvir
também a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano.
18. Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra será
ligado no céu, e tudo o que desligardes sobre a terra será também
desligado no céu.
19. Digo-vos ainda isto: se dois de vós se unirem sobre a terra
para pedir, seja o que for, consegui-lo-ão de meu Pai que está nos céus.
20. Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou
eu no meio deles.
21. Então Pedro se aproximou dele e disse: Senhor, quantas vezes
devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?
22. Respondeu Jesus: Não te digo até sete vezes, mas até setenta
vezes sete.
23. Por isso, o Reino dos céus é comparado a um rei que quis
ajustar contas com seus servos.
24. Quando começou a ajustá-las, trouxeram-lhe um que lhe devia
dez mil talentos.
25. Como ele não tinha com que pagar, seu senhor ordenou que
fosse vendido, ele, sua mulher, seus filhos e todos os seus bens para
pagar a dívida.
26. Este servo, então, prostrou-se por terra diante dele e
suplicava-lhe: Dá-me um prazo, e eu te pagarei tudo!
27. Cheio de compaixão, o senhor o deixou ir embora e perdoou-lhe
a dívida.
28. Apenas saiu dali, encontrou um de seus companheiros de
serviço que lhe devia cem denários. Agarrou-o na garganta e quase o
estrangulou, dizendo: Paga o que me deves!
29. O outro caiu-lhe aos pés e pediu-lhe: Dá-me um prazo e eu te
pagarei!
30. Mas, sem nada querer ouvir, este homem o fez lançar na
prisão, até que tivesse pago sua dívida.
31. Vendo isto, os outros servos, profundamente tristes, vieram
contar a seu senhor o que se tinha passado.
32. Então o senhor o chamou e lhe disse: Servo mau, eu te perdoei
toda a dívida porque me suplicaste.
33. Não devias também tu compadecer-te de teu companheiro de
serviço, como eu tive piedade de ti?
34. E o senhor, encolerizado, entregou-o aos algozes, até que
pagasse toda a sua dívida.
35. Assim vos tratará meu Pai celeste, se cada um de vós não
perdoar a seu irmão, de todo seu coração.
Capítulo 19
1. Após esses discursos, Jesus deixou a Galiléia e veio para a
Judéia, além do Jordão.
2. Uma grande multidão o seguiu e ele curou seus doentes.
3. Os fariseus vieram perguntar-lhe para pô-lo à prova: É
permitido a um homem rejeitar sua mulher por um motivo qualquer?
4. Respondeu-lhes Jesus: Não lestes que o Criador, no começo, fez
o homem e a mulher e disse:
5. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua
mulher; e os dois formarão uma só carne?
6. Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe
o homem o que Deus uniu.
7. Disseram-lhe eles: Por que, então, Moisés ordenou dar um
documento de divórcio à mulher, ao rejeitá-la?
8. Jesus respondeu-lhes: É por causa da dureza de vosso coração
que Moisés havia tolerado o repúdio das mulheres; mas no começo não foi
assim.
9. Ora, eu vos declaro que todo aquele que rejeita sua mulher,
exceto no caso de matrimônio falso, e desposa uma outra, comete
adultério. E aquele que desposa uma mulher rejeitada, comete também
adultério.
10. Seus discípulos disseram-lhe: Se tal é a condição do homem a
respeito da mulher, é melhor não se casar!
11. Respondeu ele: Nem todos são capazes de compreender o sentido
desta palavra, mas somente aqueles a quem foi dado.
12. Porque há eunucos que o são desde o ventre de suas mães, há
eunucos tornados tais pelas mãos dos homens e há eunucos que a si mesmos
se fizeram eunucos por amor do Reino dos céus. Quem puder compreender,
compreenda.
13. Foram-lhe, então, apresentadas algumas criancinhas para que
pusesse as mãos sobre elas e orasse por elas. Os discípulos, porém, as
afastavam.
14. Disse-lhes Jesus: Deixai vir a mim estas criancinhas e não as
impeçais, porque o Reino dos céus é para aqueles que se lhes assemelham.
15. E, depois de impor-lhes as mãos, continuou seu caminho.
16. Um jovem aproximou-se de Jesus e lhe perguntou: Mestre, que
devo fazer de bom para ter a vida eterna? Disse-lhe Jesus:
17. Por que me perguntas a respeito do que se deve fazer de bom?
Só Deus é bom. Se queres entrar na vida, observa os mandamentos.
18. Quais?, perguntou ele. Jesus respondeu: Não matarás, não
cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho,
19. honra teu pai e tua mãe, amarás teu próximo como a ti mesmo.
20. Disse-lhe o jovem: Tenho observado tudo isto desde a minha
infância. Que me falta ainda?
21. Respondeu Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende teus
bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e
segue-me!
22. Ouvindo estas palavras, o jovem foi embora muito triste,
porque possuía muitos bens.
23. Jesus disse então aos seus discípulos: Em verdade vos
declaro: é difícil para um rico entrar no Reino dos céus!
24. Eu vos repito: é mais fácil um camelo passar pelo fundo de
uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus.
25. A estas palavras seus discípulos, pasmados, perguntaram: Quem
poderá então salvar-se?
26. Jesus olhou para eles e disse: Aos homens isto é impossível,
mas a Deus tudo é possível.
27. Pedro então, tomando a palavra, disse-lhe: Eis que deixamos
tudo para te seguir. Que haverá então para nós?
28. Respondeu Jesus: Em verdade vos declaro: no dia da renovação
do mundo, quando o Filho do Homem estiver sentado no trono da glória,
vós, que me haveis seguido, estareis sentados em doze tronos para julgar
as doze tribos de Israel.
29. E todo aquele que por minha causa deixar irmãos, irmãs, pai,
mãe, mulher, filhos, terras ou casa receberá o cêntuplo e possuirá a
vida eterna.
30. Muitos dos primeiros serão os últimos e muitos dos últimos
serão os primeiros.
Capítulo 20
1. Com efeito, o Reino dos céus é semelhante a um pai de família
que saiu ao romper da manhã, a fim de contratar operários para sua
vinha.
2. Ajustou com eles um denário por dia e enviou-os para sua
vinha.
3. Cerca da terceira hora, saiu ainda e viu alguns que estavam na
praça sem fazer nada.
4. Disse-lhes ele: - Ide também vós para minha vinha e vos darei
o justo salário.
5. Eles foram. À sexta hora saiu de novo e igualmente pela nona
hora, e fez o mesmo.
6. Finalmente, pela undécima hora, encontrou ainda outros na
praça e perguntou-lhes: - Por que estais todo o dia sem fazer nada?
7. Eles responderam: - É porque ninguém nos contratou. Disse-lhes
ele, então: - Ide vós também para minha vinha.
8. Ao cair da tarde, o senhor da vinha disse a seu feitor: -
Chama os operários e paga-lhes, começando pelos últimos até os
primeiros.
9. Vieram aqueles da undécima hora e receberam cada qual um
denário.
10. Chegando por sua vez os primeiros, julgavam que haviam de
receber mais. Mas só receberam cada qual um denário.
11. Ao receberem, murmuravam contra o pai de família, dizendo:
12. - Os últimos só trabalharam uma hora... e deste-lhes tanto
como a nós, que suportamos o peso do dia e do calor.
13. O senhor, porém, observou a um deles: - Meu amigo, não te
faço injustiça. Não contrataste comigo um denário?
14. Toma o que é teu e vai-te. Eu quero dar a este último tanto
quanto a ti.
15. Ou não me é permitido fazer dos meus bens o que me apraz?
Porventura vês com maus olhos que eu seja bom?
16. Assim, pois, os últimos serão os primeiros e os primeiros
serão os últimos. [ Muitos serão os chamados, mas poucos os escolhidos.]
17. Subindo para Jerusalém, durante o caminho, Jesus tomou à
parte os Doze e disse-lhes:
18. Eis que subimos a Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue
aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas. Eles o condenarão à morte.
19. E o entregarão aos pagãos para ser exposto às suas zombarias,
açoitado e crucificado; mas ao terceiro dia ressuscitará.
20. Nisso aproximou-se a mãe dos filhos de Zebedeu com seus
filhos e prostrou-se diante de Jesus para lhe fazer uma súplica.
21. Perguntou-lhe ele: Que queres? Ela respondeu: Ordena que
estes meus dois filhos se sentem no teu Reino, um à tua direita e outro
à tua esquerda.
22. Jesus disse: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o
cálice que eu devo beber? Sim, disseram-lhe.
23. De fato, bebereis meu cálice. Quanto, porém, ao sentar-vos à
minha direita ou à minha esquerda, isto não depende de mim vo-lo
conceder. Esses lugares cabem àqueles aos quais meu Pai os reservou.
24. Os dez outros, que haviam ouvido tudo, indignaram-se contra
os dois irmãos.
25. Jesus, porém, os chamou e lhes disse: Sabeis que os chefes
das nações as subjugam, e que os grandes as governam com autoridade.
26. Não seja assim entre vós. Todo aquele que quiser tornar-se
grande entre vós, se faça vosso servo.
27. E o que quiser tornar-se entre vós o primeiro, se faça vosso
escravo.
28. Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas
para servir e dar sua vida em resgate por uma multidão.
29. Ao sair de Jericó, uma grande multidão o seguiu.
30. Dois cegos, sentados à beira do caminho, ouvindo dizer que
Jesus passava, começaram a gritar: Senhor, filho de Davi, tem piedade de
nós!
31. A multidão, porém, os repreendia para que se calassem. Mas
eles gritavam ainda mais forte: Senhor, filho de Davi, tem piedade de
nós!
32. Jesus parou, chamou-os e perguntou-lhes: Que quereis que eu
vos faça?
33. Senhor, que nossos olhos se abram!
34. Jesus, cheio de compaixão, tocou-lhes os olhos.
Instantaneamente recobraram a vista e puseram-se a segui-lo.
Capítulo 21
1. Aproximavam-se de Jerusalém. Quando chegaram a Betfagé, perto
do monte das Oliveiras, Jesus enviou dois de seus discípulos,
2. dizendo-lhes: Ide à aldeia que está defronte. Encontrareis
logo uma jumenta amarrada e com ela seu jumentinho. Desamarrai-os e
trazei-mos.
3. Se alguém vos disser qualquer coisa, respondei-lhe que o
Senhor necessita deles e que ele sem demora os devolverá.
4. Assim, neste acontecimento, cumpria-se o oráculo do profeta:
5. Dizei à filha de Sião: Eis que teu rei vem a ti, cheio de
doçura, montado numa jumenta, num jumentinho, filho da que leva o jugo
(Zc 9,9).
6. Os discípulos foram e executaram a ordem de Jesus.
7. Trouxeram a jumenta e o jumentinho, cobriram-nos com seus
mantos e fizeram-no montar.
8. Então a multidão estendia os mantos pelo caminho, cortava
ramos de árvores e espalhava-os pela estrada.
9. E toda aquela multidão, que o precedia e que o seguia,
clamava: Hosana ao filho de Davi! Bendito seja aquele que vem em nome do
Senhor! Hosana no mais alto dos céus!
10. Quando ele entrou em Jerusalém, alvoroçou-se toda a cidade,
perguntando: Quem é este?
11. A multidão respondia: É Jesus, o profeta de Nazaré da
Galiléia.
12. Jesus entrou no templo e expulsou dali todos aqueles que se
entregavam ao comércio. Derrubou as mesas dos cambistas e os bancos dos
negociantes de pombas,
13. e disse-lhes: Está escrito: Minha casa é uma casa de oração
(Is 56,7), mas vós fizestes dela um covil de ladrões (Jr 7,11)!
14. Os cegos e os coxos vieram a ele no templo e ele os curou,
15. com grande indignação dos príncipes dos sacerdotes e dos
escribas que assistiam a seus milagres e ouviam os meninos gritar no
templo: Hosana ao filho de Davi!
16. Disseram-lhe eles: Ouves o que dizem eles? Perfeitamente,
respondeu-lhes Jesus. Nunca lestes estas palavras: Da boca dos meninos e
das crianças de peito tirastes o vosso louvor (Sl 8,3)?
17. Depois os deixou e saiu da cidade para hospedar-se em
Betânia.
18. De manhã, voltando à cidade, teve fome.
19. Vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela, mas
só achou nela folhas; e disse-lhe: Jamais nasça fruto de ti!
20. E imediatamente a figueira secou. À vista disto, os
discípulos ficaram estupefatos e disseram: Como ficou seca num instante
a figueira?!
21. Respondeu-lhes Jesus: Em verdade vos declaro que, se tiverdes
fé e não hesitardes, não só fareis o que foi feito a esta figueira, mas
ainda se disserdes a esta montanha: Levanta-te daí e atira-te ao mar,
isso se fará...
22. Tudo o que pedirdes com fé na oração, vós o alcançareis.
23. Dirigiu-se Jesus ao templo. E, enquanto ensinava, os
príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo aproximaram-se e
perguntaram-lhe: Com que direito fazes isso? Quem te deu esta
autoridade?
24. Respondeu-lhes Jesus: Eu vos proporei também uma questão. Se
responderdes, eu vos direi com que direito o faço.
25. Donde procedia o batismo de João: do céu ou dos homens? Ora,
eles raciocinavam entre si: Se respondermos: Do céu, ele nos dirá: Por
que não crestes nele?
26. E se dissermos: Dos homens, é de temer-se a multidão, porque
todo o mundo considera João como profeta.
27. Responderam a Jesus: Não sabemos. Pois eu tampouco vos digo,
retorquiu Jesus, com que direito faço estas coisas.
28. Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao
primeiro, disse-lhe: - Meu filho, vai trabalhar hoje na vinha.
29. Respondeu ele: - Não quero. Mas, em seguida, tocado de
arrependimento, foi.
30. Dirigindo-se depois ao outro, disse-lhe a mesma coisa. O
filho respondeu: - Sim, pai! Mas não foi.
31. Qual dos dois fez a vontade do pai? O primeiro,
responderam-lhe. E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo: os publicanos
e as meretrizes vos precedem no Reino de Deus!
32. João veio a vós no caminho da justiça e não crestes nele. Os
publicanos, porém, e as prostitutas creram nele. E vós, vendo isto, nem
fostes tocados de arrependimento para crerdes nele.
33. Ouvi outra parábola: havia um pai de família que plantou uma
vinha. Cercou-a com uma sebe, cavou um lagar e edificou uma torre. E,
tendo-a arrendado a lavradores, deixou o país.
34. Vindo o tempo da colheita, enviou seus servos aos lavradores
para recolher o produto de sua vinha.
35. Mas os lavradores agarraram os servos, feriram um, mataram
outro e apedrejaram o terceiro.
36. Enviou outros servos em maior número que os primeiros, e
fizeram-lhes o mesmo.
37. Enfim, enviou seu próprio filho, dizendo: Hão de respeitar
meu filho.
38. Os lavradores, porém, vendo o filho, disseram uns aos outros:
Eis o herdeiro! Matemo-lo e teremos a sua herança!
39. Lançaram-lhe as mãos, conduziram-no para fora da vinha e o
assassinaram.
40. Pois bem: quando voltar o senhor da vinha, que fará ele
àqueles lavradores?
41. Responderam-lhe: Mandará matar sem piedade aqueles miseráveis
e arrendará sua vinha a outros lavradores que lhe pagarão o produto em
seu tempo.
42. Jesus acrescentou: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra
rejeitada pelos construtores tornou-se a pedra angular; isto é obra do
Senhor, e é admirável aos nossos olhos (Sl 117,22)?
43. Por isso vos digo: ser-vos-á tirado o Reino de Deus, e será
dado a um povo que produzirá os frutos dele.
44. [Aquele que tropeçar nesta pedra, far-se-á em pedaços; e
aquele sobre quem ela cair será esmagado.]
45. Ouvindo isto, os príncipes dos sacerdotes e os fariseus
compreenderam que era deles que Jesus falava.
46. E procuravam prendê-lo; mas temeram o povo, que o tinha por
um profeta.
Capítulo 22
1. Jesus tornou a falar-lhes por meio de parábolas:
2. O Reino dos céus é comparado a um rei que celebrava as bodas
do seu filho.
3. Enviou seus servos para chamar os convidados, mas eles não
quiseram vir.
4. Enviou outros ainda, dizendo-lhes: Dizei aos convidados que já
está preparado o meu banquete; meus bois e meus animais cevados estão
mortos, tudo está preparado. Vinde às bodas!
5. Mas, sem se importarem com aquele convite, foram-se, um a seu
campo e outro para seu negócio.
6. Outros lançaram mãos de seus servos, insultaram-nos e os
mataram.
7. O rei soube e indignou-se em extremo. Enviou suas tropas,
matou aqueles assassinos e incendiou-lhes a cidade.
8. Disse depois a seus servos: O festim está pronto, mas os
convidados não foram dignos.
9. Ide às encruzilhadas e convidai para as bodas todos quantos
achardes.
10. Espalharam-se eles pelos caminhos e reuniram todos quantos
acharam, maus e bons, de modo que a sala do banquete ficou repleta de
convidados.
11. O rei entrou para vê-los e viu ali um homem que não trazia a
veste nupcial.
12. Perguntou-lhe: Meu amigo, como entraste aqui, sem a veste
nupcial? O homem não proferiu palavra alguma.
13. Disse então o rei aos servos: Amarrai-lhe os pés e as mãos e
lançai-o nas trevas exteriores. Ali haverá choro e ranger de dentes.
14. Porque muitos são os chamados, e poucos os escolhidos.
15. Reuniram-se então os fariseus para deliberar entre si sobre a
maneira de surpreender Jesus nas suas próprias palavras.
16. Enviaram seus discípulos com os herodianos, que lhe disseram:
Mestre, sabemos que és verdadeiro e ensinas o caminho de Deus em toda a
verdade, sem te preocupares com ninguém, porque não olhas para a
aparência dos homens.
17. Dize-nos, pois, o que te parece: É permitido ou não pagar o
imposto a César?
18. Jesus, percebendo a sua malícia, respondeu: Por que me
tentais, hipócritas?
19. Mostrai-me a moeda com que se paga o imposto!
Apresentaram-lhe um denário.
20. Perguntou Jesus: De quem é esta imagem e esta inscrição?
21. De César, responderam-lhe. Disse-lhes então Jesus: Dai, pois,
a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
22. Esta resposta encheu-os de admiração e, deixando-o,
retiraram-se.
23. Naquele mesmo dia, os saduceus, que negavam a ressurreição,
interrogaram-no:
24. Mestre, Moisés disse: Se um homem morrer sem filhos, seu
irmão case-se com a sua viúva e dê-lhe assim uma posteridade (Dt 25,5).
25. Ora, havia entre nós sete irmãos. O primeiro casou-se e
morreu. Como não tinha filhos, deixou sua mulher ao seu irmão.
26. O mesmo sucedeu ao segundo, depois ao terceiro, até o sétimo.
27. Por sua vez, depois deles todos, morreu também a mulher.
28. Na ressurreição, de qual dos sete será a mulher, uma vez que
todos a tiveram?
29. Respondeu-lhes Jesus: Errais, não compreendendo as Escrituras
nem o poder de Deus.
30. Na ressurreição, os homens não terão mulheres nem as
mulheres, maridos; mas serão como os anjos de Deus no céu.
31. Quanto à ressurreição dos mortos, não lestes o que Deus vos
disse:
32. Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó (Ex
3,6)? Ora, ele não é Deus dos mortos, mas Deus dos vivos.
33. E, ouvindo esta doutrina, as turbas se enchiam de grande
admiração.
34. Sabendo os fariseus que Jesus reduzira ao silêncio os
saduceus, reuniram-se
35. e um deles, doutor da lei, fez-lhe esta pergunta para pô-lo à
prova:
36. Mestre, qual é o maior mandamento da lei?
37. Respondeu Jesus: Amarás o Senhor teu Deus de todo teu
coração, de toda tua alma e de todo teu espírito (Dt 6,5).
38. Este é o maior e o primeiro mandamento.
39. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a
ti mesmo (Lv 19,18).
40. Nesses dois mandamentos se resumem toda a lei e os profetas.
41. Como os fariseus se agrupassem, Jesus interrogou-os:
42. Que pensais vós de Cristo? De quem é filho? Responderam: De
Davi!
43. Como então, prosseguiu Jesus, Davi, falando sob inspiração do
Espírito, chama-o Senhor, dizendo:
44. O Senhor disse a meu Senhor: Senta-te à minha direita, até
que eu ponha teus inimigos por escabelo dos teus pés (Sl 109,1)?
45. Se, pois, Davi o chama Senhor, como é ele seu filho?
46. Ninguém pôde responder-lhe nada. E, depois daquele dia,
ninguém mais ousou interrogá-lo.
Capítulo 23
1. Dirigindo-se, então, Jesus à multidão e aos seus
discípulos,disse:
2. Os escribas e os fariseus sentaram-se na cadeira de Moisés.
3. Observai e fazei tudo o que eles dizem, mas não façais como
eles, pois dizem e não fazem.
4. Atam fardos pesados e esmagadores e com eles sobrecarregam os
ombros dos homens, mas não querem movê-los sequer com o dedo.
5. Fazem todas as suas ações para serem vistos pelos homens, por
isso trazem largas faixas e longas franjas nos seus mantos.
6. Gostam dos primeiros lugares nos banquetes e das primeiras
cadeiras nas sinagogas.
7. Gostam de ser saudados nas praças públicas e de ser chamados
rabi pelos homens.
8. Mas vós não vos façais chamar rabi, porque um só é o vosso
preceptor, e vós sois todos irmãos.
9. E a ninguém chameis de pai sobre a terra, porque um só é vosso
Pai, aquele que está nos céus.
10. Nem vos façais chamar de mestres, porque só tendes um Mestre,
o Cristo.
11. O maior dentre vós será vosso servo.
12. Aquele que se exaltar será humilhado, e aquele que se
humilhar será exaltado.
13. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Vós fechais aos
homens o Reino dos céus. Vós mesmos não entrais e nem deixais que entrem
os que querem entrar.
14. [Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Devorais as casas
das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso, sereis castigados
com muito maior rigor.]
15. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Percorreis mares e
terras para fazer um prosélito e, quando o conseguis, fazeis dele um
filho do inferno duas vezes pior que vós mesmos.
16. Ai de vós, guias cegos! Vós dizeis: Se alguém jura pelo
templo, isto não é nada; mas se jura pelo tesouro do templo, é obrigado
pelo seu juramento.
17. Insensatos, cegos! Qual é o maior: o ouro ou o templo que
santifica o ouro?
18. E dizeis ainda: Se alguém jura pelo altar, não é nada; mas se
jura pela oferta que está sobre ele, é obrigado.
19. Cegos! Qual é o maior: a oferta ou o altar que santifica a
oferta?
20. Aquele que jura pelo altar, jura ao mesmo tempo por tudo o
que está sobre ele.
21. Aquele que jura pelo templo, jura ao mesmo tempo por aquele
que nele habita.
22. E aquele que jura pelo céu, jura ao mesmo tempo pelo trono de
Deus, e por aquele que nele está sentado.
23. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Pagais o dízimo da
hortelã, do endro e do cominho e desprezais os preceitos mais
importantes da lei: a justiça, a misericórdia, a fidelidade. Eis o que
era preciso praticar em primeiro lugar, sem contudo deixar o restante.
24. Guias cegos! Filtrais um mosquito e engolis um camelo.
25. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Limpais por fora o
copo e o prato e por dentro estais cheios de roubo e de intemperança.
26. Fariseu cego! Limpa primeiro o interior do copo e do prato,
para que também o que está fora fique limpo.
27. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Sois semelhantes
aos sepulcros caiados: por fora parecem formosos, mas por dentro estão
cheios de ossos, de cadáveres e de toda espécie de podridão.
28. Assim também vós: por fora pareceis justos aos olhos dos
homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade.
29. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Edificais
sepulcros aos profetas, adornais os monumentos dos justos
30. e dizeis: Se tivéssemos vivido no tempo de nossos pais, não
teríamos manchado nossas mãos como eles no sangue dos profetas...
31. Testemunhais assim contra vós mesmos que sois de fato os
filhos dos assassinos dos profetas.
32. Acabai, pois, de encher a medida de vossos pais!
33. Serpentes! Raça de víboras! Como escapareis ao castigo do
inferno?
34. Vede, eu vos envio profetas, sábios, doutores. Matareis e
crucificareis uns e açoitareis outros nas vossas sinagogas.
Persegui-los-eis de cidade em cidade,
35. para que caia sobre vós todos o sangue inocente derramado
sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até o sangue de
Zacarias, filho de Baraquias, a quem matastes entre o templo e o altar.
36. Em verdade vos digo: todos esses crimes pesam sobre esta
raça.
37. Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas
aqueles que te são enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos,
como a galinha reúne seus pintinhos debaixo de suas asas... e tu não
quiseste!
38. Pois bem, a vossa casa vos é deixada deserta.
39. Porque eu vos digo: já não me vereis de hoje em diante, até
que digais: Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor.
Capítulo 24
1. Ao sair do templo, os discípulos aproximaram-se de Jesus e
fizeram-no apreciar as construções.
2. Jesus, porém, respondeu-lhes: Vedes todos estes edifícios? Em
verdade vos declaro: não ficará aqui pedra sobre pedra; tudo será
destruído.
3. Indo ele assentar-se no monte das Oliveiras, achegaram-se os
discípulos e, estando a sós com ele, perguntaram-lhe: Quando acontecerá
isto? E qual será o sinal de tua volta e do fim do mundo?
4. Respondeu-lhes Jesus: Cuidai que ninguém vos seduza.
5. Muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu o Cristo. E
seduzirão a muitos.
6. Ouvireis falar de guerras e de rumores de guerra. Atenção: que
isso não vos perturbe, porque é preciso que isso aconteça. Mas ainda não
será o fim.
7. Levantar-se-á nação contra nação, reino contra reino, e haverá
fome, peste e grandes desgraças em diversos lugares.
8. Tudo isto será apenas o início das dores.
9. Então sereis entregues aos tormentos, matar-vos-ão e sereis
por minha causa objeto de ódio para todas as nações.
10. Muitos sucumbirão, trair-se-ão mutuamente e mutuamente se
odiarão.
11. Levantar-se-ão muitos falsos profetas e seduzirão a muitos.
12. E, ante o progresso crescente da iniqüidade, a caridade de
muitos esfriará.
13. Entretanto, aquele que perseverar até o fim será salvo.
14. Este Evangelho do Reino será pregado pelo mundo inteiro para
servir de testemunho a todas as nações, e então chegará o fim.
15. Quando virdes estabelecida no lugar santo a abominação da
desolação que foi predita pelo profeta Daniel (9,27) - o leitor entenda
bem -
16. então os habitantes da Judéia fujam para as montanhas.
17. Aquele que está no terraço da casa não desça para tomar o que
está em sua casa.
18. E aquele que está no campo não volte para buscar suas
vestimentas.
19. Ai das mulheres que estiverem grávidas ou amamentarem
naqueles dias!
20. Rogai para que vossa fuga não seja no inverno, nem em dia de
sábado;
21. porque então a tribulação será tão grande como nunca foi
vista, desde o começo do mundo até o presente, nem jamais será.
22. Se aqueles dias não fossem abreviados, criatura alguma
escaparia; mas por causa dos escolhidos, aqueles dias serão abreviados.
23. Então se alguém vos disser: Eis, aqui está o Cristo! Ou:
Ei-lo acolá!, não creiais.
24. Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, que
farão milagres a ponto de seduzir, se isto fosse possível, até mesmo os
escolhidos.
25. Eis que estais prevenidos.
26. Se, pois, vos disserem: Vinde, ele está no deserto, não
saiais. Ou: Lá está ele em casa, não o creiais.
27. Porque, como o relâmpago parte do oriente e ilumina até o
ocidente, assim será a volta do Filho do Homem.
28. Onde houver um cadáver, aí se ajuntarão os abutres.
29. Logo após estes dias de tribulação, o sol escurecerá, a lua
não terá claridade, cairão do céu as estrelas e as potências dos céus
serão abaladas.
30. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem. Todas as
tribos da terra baterão no peito e verão o Filho do Homem vir sobre as
nuvens do céu cercado de glória e de majestade.
31. Ele enviará seus anjos com estridentes trombetas, e juntarão
seus escolhidos dos quatro ventos, duma extremidade do céu à outra.
32. Compreendei isto pela comparação da figueira: quando seus
ramos estão tenros e crescem as folhas, pressentis que o verão está
próximo.
33. Do mesmo modo, quando virdes tudo isto, sabei que o Filho do
Homem está próximo, à porta.
34. Em verdade vos declaro: não passará esta geração antes que
tudo isto aconteça.
35. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não
passarão.
36. Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe, nem mesmo os
anjos do céu, mas somente o Pai.
37. Assim como foi nos tempos de Noé, assim acontecerá na vinda
do Filho do Homem.
38. Nos dias que precederam o dilúvio, comiam, bebiam, casavam-se
e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca.
39. E os homens de nada sabiam, até o momento em que veio o
dilúvio e os levou a todos. Assim será também na volta do Filho do
Homem.
40. Dois homens estarão no campo: um será tomado, o outro será
deixado.
41. Duas mulheres estarão moendo no mesmo moinho: uma será tomada
a outra será deixada.
42. Vigiai, pois, porque não sabeis a hora em que virá o Senhor.
43. Sabei que se o pai de família soubesse em que hora da noite
viria o ladrão, vigiaria e não deixaria arrombar a sua casa.
44. Por isso, estai também vós preparados porque o Filho do Homem
virá numa hora em que menos pensardes.
45. Quem é, pois, o servo fiel e prudente que o Senhor constituiu
sobre os de sua família, para dar-lhes o alimento no momento oportuno?
46. Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, na sua volta,
encontrar procedendo assim!
47. Em verdade vos digo: ele o estabelecerá sobre todos os seus
bens.
48. Mas, se é um mau servo que imagina consigo:
49. - Meu senhor tarda a vir, e se põe a bater em seus
companheiros e a comer e a beber com os ébrios,
50. o senhor desse servo virá no dia em que ele não o espera e na
hora em que ele não sabe,
51. e o despedirá e o mandará ao destino dos hipócritas; ali
haverá choro e ranger de dentes.
Capítulo 25
1. Então o Reino dos céus será semelhante a dez virgens, que
saíram com suas lâmpadas ao encontro do esposo.
2. Cinco dentre elas eram tolas e cinco, prudentes.
3. Tomando suas lâmpadas, as tolas não levaram óleo consigo.
4. As prudentes, todavia, levaram de reserva vasos de óleo junto
com as lâmpadas.
5. Tardando o esposo, cochilaram todas e adormeceram.
6. No meio da noite, porém, ouviu-se um clamor: Eis o esposo,
ide-lhe ao encontro.
7. E as virgens levantaram-se todas e prepararam suas lâmpadas.
8. As tolas disseram às prudentes: Dai-nos de vosso óleo, porque
nossas lâmpadas se estão apagando.
9. As prudentes responderam: Não temos o suficiente para nós e
para vós; é preferível irdes aos vendedores, a fim de o comprardes para
vós.
10. Ora, enquanto foram comprar, veio o esposo. As que estavam
preparadas entraram com ele para a sala das bodas e foi fechada a porta.
11. Mais tarde, chegaram também as outras e diziam: Senhor,
senhor, abre-nos!
12. Mas ele respondeu: Em verdade vos digo: não vos conheço!
13. Vigiai, pois, porque não sabeis nem o dia nem a hora.
14. Será também como um homem que, tendo de viajar, reuniu seus
servos e lhes confiou seus bens.
15. A um deu cinco talentos; a outro, dois; e a outro, um,
segundo a capacidade de cada um. Depois partiu.
16. Logo em seguida, o que recebeu cinco talentos negociou com
eles; fê-los produzir, e ganhou outros cinco.
17. Do mesmo modo, o que recebeu dois, ganhou outros dois.
18. Mas, o que recebeu apenas um, foi cavar a terra e escondeu o
dinheiro de seu senhor.
19. Muito tempo depois, o senhor daqueles servos voltou e
pediu-lhes contas.
20. O que recebeu cinco talentos, aproximou-se e apresentou
outros cinco: - Senhor, disse-lhe, confiaste-me cinco talentos; eis aqui
outros cinco que ganhei.'
21. Disse-lhe seu senhor: - Muito bem, servo bom e fiel; já que
foste fiel no pouco, eu te confiarei muito. Vem regozijar-te com teu
senhor.
22. O que recebeu dois talentos, adiantou-se também e disse: -
Senhor, confiaste-me dois talentos; eis aqui os dois outros que lucrei.
23. Disse-lhe seu senhor: - Muito bem, servo bom e fiel; já que
foste fiel no pouco, eu te confiarei muito. Vem regozijar-te com teu
senhor.
24. Veio, por fim, o que recebeu só um talento: - Senhor,
disse-lhe, sabia que és um homem duro, que colhes onde não semeaste e
recolhes onde não espalhaste.
25. Por isso, tive medo e fui esconder teu talento na terra. Eis
aqui, toma o que te pertence.
26. Respondeu-lhe seu senhor: - Servo mau e preguiçoso! Sabias
que colho onde não semeei e que recolho onde não espalhei.
27. Devias, pois, levar meu dinheiro ao banco e, à minha volta,
eu receberia com os juros o que é meu.
28. Tirai-lhe este talento e dai-o ao que tem dez.
29. Dar-se-á ao que tem e terá em abundância. Mas ao que não tem,
tirar-se-á mesmo aquilo que julga ter.
30. E a esse servo inútil, jogai-o nas trevas exteriores; ali
haverá choro e ranger de dentes.
31. Quando o Filho do Homem voltar na sua glória e todos os anjos
com ele, sentar-se-á no seu trono glorioso.
32. Todas as nações se reunirão diante dele e ele separará uns
dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos.
33. Colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua
esquerda.
34. Então o Rei dirá aos que estão à direita: - Vinde, benditos
de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação
do mundo,
35. porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes
de beber; era peregrino e me acolhestes;
36. nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão
e viestes a mim.
37. Perguntar-lhe-ão os justos: - Senhor, quando foi que te vimos
com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber?
38. Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te
vestimos?
39. Quando foi que te vimos enfermo ou na prisão e te fomos
visitar?
40. Responderá o Rei: - Em verdade eu vos declaro: todas as vezes
que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim
mesmo que o fizestes.
41. Voltar-se-á em seguida para os da sua esquerda e lhes dirá: -
Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao
demônio e aos seus anjos.
42. Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me
destes de beber;
43. era peregrino e não me acolhestes; nu e não me vestistes;
enfermo e na prisão e não me visitastes.
44. Também estes lhe perguntarão: - Senhor, quando foi que te
vimos com fome, com sede, peregrino, nu, enfermo, ou na prisão e não te
socorremos?
45. E ele responderá: - Em verdade eu vos declaro: todas as vezes
que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a mim que o
deixastes de fazer.
46. E estes irão para o castigo eterno, e os justos, para a vida
eterna.
Capítulo 26
1. Quando Jesus acabou todos esses discursos, disse a seus
discípulos:
2. Sabeis que daqui a dois dias será a Páscoa, e o Filho do Homem
será traído para ser crucificado.
3. Então os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo
reuniram-se no pátio do sumo sacerdote, chamado Caifás,
4. e deliberaram sobre os meios de prender Jesus por astúcia e de
o matar.
5. E diziam: Sobretudo, não seja durante a festa. Poderá haver um
tumulto entre o povo.
6. Encontrava-se Jesus em Betânia, na casa de Simão, o leproso.
7. Estando à mesa, aproximou-se dele uma mulher com um vaso de
alabastro, cheio de perfume muito caro, e derramou-o na sua cabeça.
8. Vendo isto, os discípulos disseram indignados: Para que este
desperdício?
9. Poder-se-ia vender este perfume por um bom preço e dar o
dinheiro aos pobres.
10. Jesus ouviu-os e disse-lhes: Por que molestais esta mulher? É
uma ação boa o que ela me fez.
11. Pobres vós tereis sempre convosco. A mim, porém, nem sempre
me tereis.
12. Derramando esse perfume em meu corpo, ela o fez em vista da
minha sepultura.
13. Em verdade eu vos digo: em toda parte onde for pregado este
Evangelho pelo mundo inteiro, será contado em sua memória o que ela fez.
14. Então um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os
príncipes dos sacerdotes e perguntou-lhes:
15. Que quereis dar-me e eu vo-lo entregarei. Ajustaram com ele
trinta moedas de prata.
16. E desde aquele instante, procurava uma ocasião favorável para
entregar Jesus.
17. No primeiro dia dos Ázimos, os discípulos aproximaram-se de
Jesus e perguntaram-lhe: Onde queres que preparemos a ceia pascal?
18. Respondeu-lhes Jesus: Ide à cidade, à casa de um tal, e
dizei-lhe: O Mestre manda dizer-te: Meu tempo está próximo. É em tua
casa que celebrarei a Páscoa com meus discípulos.
19. Os discípulos fizeram o que Jesus tinha ordenado e prepararam
a Páscoa.
20. Ao declinar da tarde, pôs-se Jesus à mesa com os doze
discípulos.
21. Durante a ceia, disse: Em verdade vos digo: um de vós me há
de trair.
22. Com profunda aflição, cada um começou a perguntar: Sou eu,
Senhor?
23. Respondeu ele: Aquele que pôs comigo a mão no prato, esse me
trairá.
24. O Filho do Homem vai, como dele está escrito. Mas ai daquele
homem por quem o Filho do Homem é traído! Seria melhor para esse homem
que jamais tivesse nascido!
25. Judas, o traidor, tomou a palavra e perguntou: Mestre, serei
eu? Sim, disse Jesus.
26. Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o
deu aos discípulos, dizendo: Tomai e comei, isto é meu corpo.
27. Tomou depois o cálice, rendeu graças e deu-lho, dizendo:
Bebei dele todos,
28. porque isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado
por muitos homens em remissão dos pecados.
29. Digo-vos: doravante não beberei mais desse fruto da vinha até
o dia em que o beberei de novo convosco no Reino de meu Pai.
30. Depois do canto dos Salmos, dirigiram-se eles para o monte
das Oliveiras.
31. Disse-lhes então Jesus: Esta noite serei para todos vós uma
ocasião de queda; porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do
rebanho serão dispersadas (Zc 13,7).
32. Mas, depois da minha Ressurreição, eu vos precederei na
Galiléia.
33. Pedro interveio: Mesmo que sejas para todos uma ocasião de
queda, para mim jamais o serás.
34. Disse-lhe Jesus: Em verdade te digo: nesta noite mesma, antes
que o galo cante, três vezes me negarás.
35. Respondeu-lhe Pedro: Mesmo que seja necessário morrer
contigo, jamais te negarei! E todos os outros discípulos diziam-lhe o
mesmo.
36. Retirou-se Jesus com eles para um lugar chamado Getsêmani e
disse-lhes: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar.
37. E, tomando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou
a entristecer-se e a angustiar-se.
38. Disse-lhes, então: Minha alma está triste até a morte. Ficai
aqui e vigiai comigo.
39. Adiantou-se um pouco e, prostrando-se com a face por terra,
assim rezou: Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice! Todavia
não se faça o que eu quero, mas sim o que tu queres.
40. Foi ter então com os discípulos e os encontrou dormindo. E
disse a Pedro: Então não pudestes vigiar uma hora comigo...
41. Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito
está pronto, mas a carne é fraca.
42. Afastou-se pela segunda vez e orou, dizendo: Meu Pai, se não
é possível que este cálice passe sem que eu o beba, faça-se a tua
vontade!
43. Voltou ainda e os encontrou novamente dormindo, porque seus
olhos estavam pesados.
44. Deixou-os e foi orar pela terceira vez, dizendo as mesmas
palavras.
45. Voltou então para os seus discípulos e disse-lhes: Dormi
agora e repousai! Chegou a hora: o Filho do Homem vai ser entregue nas
mãos dos pecadores...
46. Levantai-vos, vamos! Aquele que me trai está perto daqui.
47. Jesus ainda falava, quando veio Judas, um dos Doze, e com ele
uma multidão de gente armada de espadas e cacetes, enviada pelos
príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos do povo.
48. O traidor combinara com eles este sinal: Aquele que eu
beijar, é ele. Prendei-o!
49. Aproximou-se imediatamente de Jesus e disse: Salve, Mestre. E
beijou-o.
50. Disse-lhe Jesus: É, então, para isso que vens aqui? Em
seguida, adiantaram-se eles e lançaram mão em Jesus para prendê-lo.
51. Mas um dos companheiros de Jesus desembainhou a espada e
feriu um servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha.
52. Jesus, no entanto, lhe disse: Embainha tua espada, porque
todos aqueles que usarem da espada, pela espada morrerão.
53. Crês tu que não posso invocar meu Pai e ele não me enviaria
imediatamente mais de doze legiões de anjos?
54. Mas como se cumpririam então as Escrituras, segundo as quais
é preciso que seja assim?
55. Depois, voltando-se para a turba, falou: Saístes armados de
espadas e
porretes para prender-me, como se eu fosse um malfeitor. Entretanto,
todos os dias estava eu sentado entre vós ensinando no templo e não me
prendestes.
56. Mas tudo isto aconteceu porque era necessário que se
cumprissem os oráculos dos profetas. Então os discípulos o abandonaram e
fugiram.
57. Os que haviam prendido Jesus levaram-no à casa do sumo
sacerdote Caifás, onde estavam reunidos os escribas e os anciãos do
povo.
58. Pedro seguia-o de longe, até o pátio do sumo sacerdote.
Entrou e sentou-se junto aos criados para ver como terminaria aquilo.
59. Enquanto isso, os príncipes dos sacerdotes e todo o conselho
procuravam um falso testemunho contra Jesus, a fim de o levarem à morte.
60. Mas não o conseguiram, embora se apresentassem muitas falsas
testemunhas.
61. Por fim, apresentaram-se duas testemunhas, que disseram: Este
homem disse: Posso destruir o templo de Deus e reedificá-lo em três
dias.
62. Levantou-se o sumo sacerdote e lhe perguntou: Nada tens a
responder ao que essa gente depõe contra ti?
63. Jesus, no entanto, permanecia calado. Disse-lhe o sumo
sacerdote: Por Deus vivo, conjuro-te que nos digas se és o Cristo, o
Filho de Deus?
64. Jesus respondeu: Sim. Além disso, eu vos declaro que vereis
doravante o Filho do Homem sentar-se à direita do Todo-poderoso, e
voltar sobre as nuvens do céu.
65. A estas palavras, o sumo sacerdote rasgou suas vestes,
exclamando: Que necessidade temos ainda de testemunhas? Acabastes de
ouvir a blasfêmia!
66. Qual o vosso parecer? Eles responderam: Merece a morte!
67. Cuspiram-lhe então na face, bateram-lhe com os punhos e
deram-lhe tapas,
68. dizendo: Adivinha, ó Cristo: quem te bateu?
69. Enquanto isso, Pedro estava sentado no pátio. Aproximou-se
dele uma das servas, dizendo: Também tu estavas com Jesus, o Galileu.
70. Mas ele negou publicamente, nestes termos: Não sei o que
dizes.
71. Dirigia-se ele para a porta, a fim de sair, quando outra
criada o viu e disse aos que lá estavam: Este homem também estava com
Jesus de Nazaré.
72. Pedro, pela segunda vez, negou com juramento: Eu nem conheço
tal homem.
73. Pouco depois, os que ali estavam aproximaram-se de Pedro e
disseram: Sim, tu és daqueles; teu modo de falar te dá a conhecer.
74. Pedro então começou a fazer imprecações, jurando que nem
sequer conhecia tal homem. E, neste momento, cantou o galo.
75. Pedro recordou-se do que Jesus lhe dissera: Antes que o galo
cante, negar-me-ás três vezes. E saindo, chorou amargamente.
Capítulo 27
1. Chegando a manhã, todos os príncipes dos sacerdotes e os
anciãos do povo reuniram-se em conselho para entregar Jesus à morte.
2. Ligaram-no e o levaram ao governador Pilatos.
3. Judas, o traidor, vendo-o então condenado, tomado de remorsos,
foi devolver aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos as trinta moedas
de prata,
4. dizendo-lhes: Pequei, entregando o sangue de um justo.
Responderam-lhe: Que nos importa? Isto é lá contigo!
5. Ele jogou então no templo as moedas de prata, saiu e foi
enforcar-se.
6. Os príncipes dos sacerdotes tomaram o dinheiro e disseram: Não
é permitido lançá-lo no tesouro sagrado, porque se trata de preço de
sangue.
7. Depois de haverem deliberado, compraram com aquela soma o
campo do Oleiro, para que ali se fizesse um cemitério de estrangeiros.
8. Esta é a razão por que aquele terreno é chamado, ainda hoje,
Campo de Sangue.
9. Assim se cumpriu a profecia do profeta Jeremias: Eles
receberam trinta moedas de prata, preço daquele cujo valor foi estimado
pelos filhos de Israel;
10. e deram-no pelo campo do Oleiro, como o Senhor me havia
prescrito.
11. Jesus compareceu diante do governador, que o interrogou: És o
rei dos judeus? Sim, respondeu-lhe Jesus.
12. Ele, porém, nada respondia às acusações dos príncipes dos
sacerdotes e dos anciãos.
13. Perguntou-lhe Pilatos: Não ouves todos os testemunhos que
levantam contra ti?
14. Mas, para grande admiração do governador, não quis responder
a nenhuma acusação.
15. Era costume que o governador soltasse um preso a pedido do
povo em cada festa de Páscoa.
16. Ora, havia naquela ocasião um prisioneiro famoso, chamado
Barrabás.
17. Pilatos dirigiu-se ao povo reunido: Qual quereis que eu vos
solte: Barrabás ou Jesus, que se chama Cristo?
18. (Ele sabia que tinham entregue Jesus por inveja.)
19. Enquanto estava sentado no tribunal, sua mulher lhe mandou
dizer: Nada faças a esse justo. Fui hoje atormentada por um sonho que
lhe diz respeito.
20. Mas os príncipes dos sacerdotes e os anciãos persuadiram o
povo que pedisse a libertação de Barrabás e fizesse morrer Jesus.
21. O governador tomou então a palavra: Qual dos dois quereis que
eu vos solte? Responderam: Barrabás!
22. Pilatos perguntou: Que farei então de Jesus, que é chamado o
Cristo? Todos responderam: Seja crucificado!
23. O governador tornou a perguntar: Mas que mal fez ele? E
gritavam ainda mais forte: Seja crucificado!
24. Pilatos viu que nada adiantava, mas que, ao contrário, o
tumulto crescia. Fez com que lhe trouxessem água, lavou as mãos diante
do povo e disse: Sou inocente do sangue deste homem. Isto é lá convosco!
25. E todo o povo respondeu: Caia sobre nós o seu sangue e sobre
nossos filhos!
26. Libertou então Barrabás, mandou açoitar Jesus e lho entregou
para ser crucificado.
27. Os soldados do governador conduziram Jesus para o pretório e
rodearam-no com todo o pelotão.
28. Arrancaram-lhe as vestes e colocaram-lhe um manto escarlate.
29. Depois, trançaram uma coroa de espinhos, meteram-lha na
cabeça e puseram-lhe na mão uma vara. Dobrando os joelhos diante dele,
diziam com escárnio: Salve, rei dos judeus!
30. Cuspiam-lhe no rosto e, tomando da vara, davam-lhe golpes na
cabeça.
31. Depois de escarnecerem dele, tiraram-lhe o manto e
entregaram-lhe as vestes. Em seguida, levaram-no para o crucificar.
32. Saindo, encontraram um homem de Cirene, chamado Simão, a quem
obrigaram a levar a cruz de Jesus.
33. Chegaram ao lugar chamado Gólgota, isto é, lugar do crânio.
34. Deram-lhe de beber vinho misturado com fel. Ele provou, mas
se recusou a beber.
35. Depois de o haverem crucificado, dividiram suas vestes entre
si, tirando a sorte. Cumpriu-se assim a profecia do profeta: Repartiram
entre si minhas vestes e sobre meu manto lançaram a sorte (Sl 21,19).
36. Sentaram-se e montaram guarda.
37. Por cima de sua cabeça penduraram um escrito trazendo o
motivo de sua crucificação: Este é Jesus, o rei dos judeus.
38. Ao mesmo tempo foram crucificados com ele dois ladrões, um à
sua direita e outro à sua esquerda.
39. Os que passavam o injuriavam, sacudiam a cabeça e diziam:
40. Tu, que destróis o templo e o reconstróis em três dias,
salva-te a ti mesmo! Se és o Filho de Deus, desce da cruz!
41. Os príncipes dos sacerdotes, os escribas e os anciãos também
zombavam dele:
42. Ele salvou a outros e não pode salvar-se a si mesmo! Se é rei
de Israel, desça agora da cruz e nós creremos nele!
43. Confiou em Deus, Deus o livre agora, se o ama, porque ele
disse: Eu sou o Filho de Deus!
44. E os ladrões, crucificados com ele, também o ultrajavam.
45. Desde a hora sexta até a nona, cobriu-se toda a terra de
trevas.
46. Próximo da hora nona, Jesus exclamou em voz forte: Eli, Eli,
lammá sabactáni? - o que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, por que me
abandonaste?
47. A estas palavras, alguns dos que lá estavam diziam: Ele chama
por Elias.
48. Imediatamente um deles tomou uma esponja, embebeu-a em
vinagre e apresentou-lha na ponta de uma vara para que bebesse.
49. Os outros diziam: Deixa! Vejamos se Elias virá socorrê-lo.
50. Jesus de novo lançou um grande brado, e entregou a alma.
51. E eis que o véu do templo se rasgou em duas partes de alto a
baixo, a terra tremeu, fenderam-se as rochas.
52. Os sepulcros se abriram e os corpos de muitos justos
ressuscitaram.
53. Saindo de suas sepulturas, entraram na Cidade Santa depois da
ressurreição de Jesus e apareceram a muitas pessoas.
54. O centurião e seus homens que montavam guarda a Jesus, diante
do estremecimento da terra e de tudo o que se passava, disseram entre
si, possuídos de grande temor: Verdadeiramente, este homem era Filho de
Deus!
55. Havia ali também algumas mulheres que de longe olhavam;
tinham seguido Jesus desde a Galiléia para o servir.
56. Entre elas se achavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e
de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.
57. À tardinha, um homem rico de Arimatéia, chamado José, que era
também discípulo de Jesus,
58. foi procurar Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos
cedeu-o.
59. José tomou o corpo, envolveu-o num lençol branco
60. e o depositou num sepulcro novo, que tinha mandado talhar
para si na rocha. Depois rolou uma grande pedra à entrada do sepulcro e
foi-se embora.
61. Maria Madalena e a outra Maria ficaram lá, sentadas defronte
do túmulo.
62. No dia seguinte - isto é, o dia seguinte ao da Preparação -,
os príncipes dos sacerdotes e os fariseus dirigiram-se todos juntos à
casa de Pilatos.
63. E disseram-lhe: Senhor, nós nos lembramos de que aquele
impostor disse, enquanto vivia: Depois de três dias ressuscitarei.
64. Ordena, pois, que seu sepulcro seja guardado até o terceiro
dia. Os seus
discípulos poderiam vir roubar o corpo e dizer ao povo: Ressuscitou dos
mortos. E esta última impostura seria pior que a primeira.
65. Respondeu Pilatos: Tendes uma guarda. Ide e guardai-o como o
entendeis.
66. Foram, pois, e asseguraram o sepulcro, selando a pedra e
colocando guardas.
Capítulo 28
1. Depois do sábado, quando amanhecia o primeiro dia da semana,
Maria Madalena e a outra Maria foram ver o túmulo.
2. E eis que houve um violento tremor de terra: um anjo do Senhor
desceu do céu, rolou a pedra e sentou-se sobre ela.
3. Resplandecia como relâmpago e suas vestes eram brancas como a
neve.
4. Vendo isto, os guardas pensaram que morreriam de pavor.
5. Mas o anjo disse às mulheres: Não temais! Sei que procurais
Jesus, que foi crucificado.
6. Não está aqui: ressuscitou como disse. Vinde e vede o lugar em
que ele repousou.
7. Ide depressa e dizei aos discípulos que ele ressuscitou dos
mortos. Ele vos precede na Galiléia. Lá o haveis de rever, eu vo-lo
disse.
8. Elas se afastaram prontamente do túmulo com certo receio, mas
ao mesmo tempo com alegria, e correram a dar a boa nova aos discípulos.
9. Nesse momento, Jesus apresentou-se diante delas e disse-lhes:
Salve! Aproximaram-se elas e, prostradas diante dele, beijaram-lhe os
pés.
10. Disse-lhes Jesus: Não temais! Ide dizer aos meus irmãos que
se dirijam à Galiléia, pois é lá que eles me verão.
11. Enquanto elas voltavam, alguns homens da guarda já estavam na
cidade para anunciar o acontecimento aos príncipes dos sacerdotes.
12. Reuniram-se estes em conselho com os anciãos. Deram aos
soldados uma importante soma de dinheiro, ordenando-lhes:
13. Vós direis que seus discípulos vieram retirá-lo à noite,
enquanto dormíeis.
14. Se o governador vier a sabê-lo, nós o acalmaremos e vos
tiraremos de dificuldades.
15. Os soldados receberam o dinheiro e seguiram suas instruções.
E esta versão é ainda hoje espalhada entre os judeus.
16. Os onze discípulos foram para a Galiléia, para a montanha que
Jesus lhes tinha designado.
17. Quando o viram, adoraram-no; entretanto, alguns hesitavam
ainda.
18. Mas Jesus, aproximando-se, lhes disse: Toda autoridade me foi
dada no céu e na terra.
19. Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do
Pai, do Filho e do Espírito Santo.
20. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou
convosco todos os dias, até o fim do mundo.
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